domingo, 15 junho, 2025
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ACORDO DE R$ 650 MILHÕES DA ECOVIAS TEM SUAS RAÍZES NO PARANÁ

Medo de ficar fora de concorrências públicas determinou decisão do grupo Primav/CR Almeida

Sede da CR Almeida

Tem muito a ver com o Paraná o impressionante acordo que a EcoVias – do Grupo CR Almeida, de Curitiba – firmou com o ministério Público de São Paulo, em que se compromete a devolver ao Governo de São Paulo R$ 650 milhões.

Pelo acordo, o grupo afirma que todos os 12 contratos de concessão rodoviária assinados pelo governo paulista, desde 1998, foram fraudados por meio da ação de um cartel.

 

DEZENAS DE EMPRESAS

Esse cartel – composto por dezenas de empresas – pagou propinas a funcionários públicos e fez repasses para caixa dois de campanhas políticas. No período das propinas e dos contratos, São Paulo era governado por Mário Covas, Alckmin e José Serra, todos tucanos (PSDB).

O principal acionista da EcoVias é a Primav, principal acionista do Grupo C.R.Almeida, fundado por Cecílio Rego Almeida, e hoje comandado por Marco Antonio Cassou, genro de Cecílio.

Marco Antonio Cassou

PARA PEDÁGIO

A distribuição dos R$ 650 milhões, acordada com o MP, segundo fato relevante dado a conhecer na noite de segunda-feira, 6, em São Paulo, será o seguinte: parte do dinheiro, R$ 150 milhões será usado para custear a redução de 10% do valor do valor da tarifa do pedágio em Praças da Ecovias.

 

CORONAVÍRUS

Os representantes da EcoRodovias acertaram com o MP paulista que outros R$ 36 milhões serão destinados ao combate ao novo coronavírus, como bancar UTIs para pacientes da infecção.

 

ANCHIETA

O grosso da devolução que a empresa se compromete-se a fazer, R$ 450 milhões, será utilizado paras obras. Como reformulação do trecho urbano da Rodovia Anchieta, para desafogar o trânsito de caminhões.

 

INVESTIGAÇÕES

As investigações sobre o caso começaram em 2018, e a Ecovias fez acordo semelhante no Paraná, quando concordou pagar R$ 400 milhões durante a Lavajato (ação homologada em 2019). Admitindo a formação de cartel, a Ecovias evitou pagar outras punições administrativas. Uma delas, a ser banida de futuras licitações.

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PODER DA “COMPLIANCE”

 

Certa tarde de 2017, dentro do carro blindado de um dos “big shots” da CR Almeida, conduzido até minha casa depois de termos almoçado numa obra social em Quatro Barros, por um herdeiro da obra de Cecílio Rego Almeida, ouvi uma série de confidencias. Algumas surpreendentes; outras nem tanto.

Ao final, uma coisa ficou claro: a empresa, ainda muito poderosa e dona de patrimônio quase inimaginável a olho nu, teria – disse-me o poderoso conhecido – de rever seus métodos de trabalho, “pois os tempos estão mudando”. E estavam mesmo, com a Lava Jato já instalando a chamada República de Curitiba, e um novo vocábulo passando a dominar o mundo dos negócios e o universo jurídico: “compliance”.

TEMPO DE PC FARIA

Foi em cima de compliance que esse conhecido me falou de velhos hábitos, que ele disse conhecer bem desde os tempos de Fernando Collor, quando tinha de levar, em nome de seu grupo, malas e malas com dólares num edifício da Avenida Paulista. Lá entrava obrigatoriamente na fila em que se alinhavam, “com enorme dignidade”, empresários de todos os portes, para oferecer seus mimos a PC Farias, o intermediário das propinas milionárias.

 

CONFIDÊNCIAS

Também daquela longa conversa de quase duas horas dentro do carro (a salvo pelo ar refrigerado) a mim ficou-me bem claro: parte dos herdeiros de Cecílio do Rego Almeida considerava-se desafeto de Marco Antonio Cassou, o poderoso capo da empresa, casado com uma das filhas de Cecílio e Rosita (viúva de Karlos Rischbieter).

 

QUANTO TEMPO DURA?

Se Cassou ainda tem a maioria dos votos dentro do clã e outros acionistas da CR Almeida, não sei. Como não se sabe se essa situação será duradoura. O que sei é que, dentro da Lava Jato há fontes garantindo que todos os caminhos de irregularidades documentados pela PF e MPF, no grupo CR Almeida, podem ter tido empurrão providencial de vozes descontentes no universo familiar. Quer dizer: o espírito da “República de Curitiba” teria dado uma mão para “converter” mentes e ações de poderosos como os instalados na alta direção da CR Almeida e Primav.

 

GRANDE CONVERSÃO

Uma coisa parece certa: a mudança do grupo EcoVias, em sua forma de negociar, não é fruto de uma ‘conversão paulina’, aquela da queda de um cavalo que acabou revelando Paulo como apóstolo do cristianismo. No caso, dedos humanos, e próximos do piorado da Primav, devem ter exercido papel muito maior do que imaginam nossos curtos horizontes jornalísticos.

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