Assessoria – Na contramão da média brasileira, a indústria do Paraná segue em alta em 2024, é o que aponta a Pesquisa Mensal Industrial (PIM), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada no início do ano. Os dados apontam que o setor industrial cresceu 1,9% em janeiro no Estado, enquanto o Brasil registrou queda de 1,6%. Nesse panorama, empresas que buscarem adicionar ao seu portfólio produtos carbono neutro, têm ainda mais chances de se manterem relevantes no mercado.
A engenheira ambiental e sócia da Climate Tech Vankka, Clarissa M. de Souza, afirma que como uma alternativa de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, a geração de créditos de carbono deve ser algo a ser considerado primordial para as empresas. “O mercado de carbono opera com a compra de créditos por países ou empresas que excedem suas metas de emissão de gases definidas no Protocolo de Kyoto. No Brasil, em dezembro de 2023, a Câmara dos Deputados aprovou o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), uma iniciativa que cria uma estrutura que define limites às emissões e estabelece um mercado para a negociação de títulos gerando oportunidades para negócios sustentáveis em duas frentes: o mercado de carbono regulado e o mercado de carbono voluntário”, conta.
Clarissa explica que no mercado regulado, as empresas utilizam os créditos para cumprir obrigações estabelecidas por legislações ou acordos internacionais, já o mercado de carbono voluntário envolve a compra de créditos por parte de empresas ou outras entidades para cumprir compromissos climáticos que não estão sujeitos a obrigações legais de redução de emissões. “No mercado voluntário, que surgiu em paralelo ao Protocolo de Kyoto, as organizações optam por compensar suas emissões industriais ou comerciais adquirindo créditos de carbono de projetos que removem gases de efeito estufa da atmosfera. Esses projetos englobam iniciativas como energia renovável, reflorestamento e conservação florestal. Essa abordagem proporciona flexibilidade às organizações privadas e comprometidas com a agenda ESG (Ambiental, Social e de Governança), que buscam implementar medidas adicionais no enfrentamento das mudanças climáticas, indo além do que é exigido pelas regulamentações”, conta.
Mercado de carbono voluntário e o Paraná
A oferta brasileira de créditos corresponde a cerca de 12% das emissões mundiais no mercado voluntário, de acordo com um estudo da Câmara de Comércio Internacional (ICC Brasil) em parceria com a WayCarbon, sendo que o país poderia atender até 48% da demanda global até 2030, equivalente a US$ 120 bilhões. “Embora o Brasil esteja avançando com a regulamentação do SBCE, ainda há muito o que se fazer em relação à legislação, porém algumas empresas já podem adotar ações voluntárias de redução, que não apenas contribuem para o meio ambiente, mas também obtêm benefícios financeiros com a geração e venda de créditos de carbono. A maturidade das indústrias brasileiras, especialmente no Paraná, está em ascensão, impulsionada pela vocação da região e por fatores legais favoráveis, como o Selo Clima Paraná, que incentiva a redução da Pegada de Carbono”, explica Clarissa.
A engenheira reforça que no Paraná, devido à natureza da economia estadual, fortemente baseada na agricultura, há uma preocupação crescente de grandes cooperativas e associações de produtores com questões ambientais. “É importante notar que existem diversas iniciativas governamentais de apoio aos produtores em programas de crédito para a geração de energias renováveis, principalmente biomassa. A indústria paranaense está triplamente interessada nesse tema devido ao consumo de energia, à fabricação de equipamentos para redução de emissões e à diversidade de biomassa disponível para produção de energia”, conta.
Como a indústria pode se beneficiar
A indústria pode se beneficiar significativamente do mercado de carbono voluntário, pois este oferece uma oportunidade única para as empresas demonstrarem seu compromisso com a sustentabilidade e a responsabilidade ambiental. “Ao participar desse mercado, as indústrias podem adotar práticas e tecnologias mais limpas para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, o que não apenas contribui para a preservação do meio ambiente, mas também promove uma imagem positiva da empresa perante seus clientes e investidores. Além disso, o mercado de carbono voluntário pode abrir novas fontes de receita para as indústrias, à medida que elas podem comercializar os créditos de carbono gerados por suas iniciativas de redução de emissões, transformando suas ações sustentáveis em oportunidades econômicas”, afirma Clarissa.
- Reputação sustentável
Participar do mercado de carbono demonstra o compromisso da empresa com a sustentabilidade e a redução das emissões, o que pode atrair clientes conscientes e investidores ESG (Ambiental, Social e de Governança) e fortalecer os laços com a comunidade local e os stakeholders, aumentando a confiança e o engajamento com a marca.
- Acesso a financiamento verde
Muitas instituições financeiras estão priorizando investimentos em empresas sustentáveis. Ao reduzir suas emissões e participar do mercado de carbono, sua empresa pode obter acesso a financiamentos favoráveis. Além disso, ao demonstrar um compromisso efetivo com a redução das emissões de carbono e a sustentabilidade ambiental, as empresas também se tornam mais atraentes para investidores e instituições financeiras que valorizam práticas empresariais responsáveis.
- Competitividade global
À medida que as regulamentações ambientais se tornam mais rigorosas, as empresas que já estão em conformidade com os limites de emissão terão uma vantagem competitiva nos mercados internacionais, algo especialmente relevante em um contexto onde os consumidores estão cada vez mais conscientes e exigentes quanto às práticas ambientais das empresas.
- Redução do custo social do carbono
O “Custo Social do Carbono” refere-se ao impacto econômico e social causado pelas mudanças climáticas devido às emissões de gases de efeito estufa (GEE). Esse custo inclui uma série de consequências, como desastres naturais causados ou agravados pelo aumento das temperaturas globais, bem como os impactos na saúde pública decorrentes da poluição do ar e das condições climáticas extremas.