Por André Nunes
A grosso modo, a constelação familiar pode ser definida como uma modalidade de terapia alternativa, sem comprovação científica, que busca identificar a causa de problemas e conflitos pessoais a partir de dinâmicas de grupo em que os participantes interpretam e representam o histórico familiar do paciente.
Dando sequência ao espetáculo anterior, “Conversas com meu pai”, a premiada Janaina Leite propõe trazer sua mãe para o palco. Além da presença física e literal da genitora, a simbologia materna é amplamente debatida em uma espécie de docudrama, com projeções em vídeo e digressões feitas pela diretora e protagonista. Ou na definição da sinopse, uma palestra-performance.

Do latim, stabat mater significa “a mãe estava lá”, ou simplesmente “estava a mãe”, em referência aos momentos em que Nossa Senhora, mãe de Jesus, esteve ao seu lado. Eis que somos contemplados com uma encenação que faz referência a uma constelação familiar terapêutica, com Janaina, sua mãe e seu pai sendo representados por pessoas da plateia em uma breve participação.
Um dos pontos altos do espetáculo sem dúvida é a reflexão (e provocação) feita por Janaina acerca da representação da mulher e do feminino na cultura pop, com ênfase na pornografia e no terror slash, que se contrapõe ao simbolismo maternal sagrado pregado pelas religiões. Como não poderia performar de forma crível em cima do terror, a dramaturga “invade” o universo pornográfico.
A proposta de Stabat Mater, então, passa a ser unir em cena Janaina, sua mãe e um ator pornô – em vídeo. A protagonista mostra vídeos das audições feitas com atores profissionais, que contam um pouco de suas vivências e respondem se topariam gravar uma cena de “sexo real”, entre aspas mesmo, com Janaina, sendo dirigidos pela mãe dela.
Ainda que a descrição possa chocar quem não assiste à peça, já adianto que tudo é devidamente explicado e a mãe não passa por nenhum constrangimento em vídeo nem no palco. Como ela mesma diz, está ali “para dar uma forcinha” à sua filha artista.
Os momentos em que a mãe toma o microfone e conta trechos de sua vida são comoventes pela franqueza e realismo, já que não se trata de uma atriz, e sim de uma mãe, mulher, esposa. Como as nossas mães e avós…
Stabat Mater fez duas sessões disputadas no Teatro José Maria Santos, nesta terça (28) e quarta (29), dentro da Mostra Lucia Camargo, do 31º Festival de Curitiba.