terça-feira, 1 julho, 2025
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Guerra no Iraque: uma mentira e suas longas consequências

Há 20 anos, os EUA de Bush iniciavam a eliminação do regime de Saddam Hussein, alegando posse de armas de destruição em massa e cumplicidade nos atentados de 11 de Setembro. Hoje, Sul Global cobra essas falsidades

Por Matthias von Hein – Agência DW

A matança continua duas décadas depois: somente em fevereiro de 2023, pelo menos 52 civis morreram no Iraque em tiroteios, bombardeios e outros ataques. A violência é um eco da guerra no Iraque, lançada pelos Estados Unidos na noite de 19 para 20 de março de 2003.

O país árabe pouco pôde opor à campanha de “choque e pavor” (shock and awe) realizada pela “coalizão dos dispostos” (coalition of the willing), que incluía o Reino Unido, Austrália e Polônia, sob liderança americana. No espaço de três semanas, Saddam Hussein e sua brutal ditadura tinham sumido do mapa. Outras três semanas mais tarde, e do convés do porta-aviões USS Abraham Lincoln, um triunfante presidente George W. Bush anunciava “missão cumprida”.

A essa altura, segundo dados do Pentágono, os EUA e seus aliados haviam lançado 29.166 bombas e mísseis sobre o país inimigo. Grande parte da infraestrutura local estava em ruínas. A ONG britânica Iraq Body Count calcula em 7 mil o número de civis mortos.

Assim se concluíam as operações militares de maior porte, mas ao mesmo tempo iniciava-se uma longa e fatal fase de ocupação, que ao todo custou entre 200 mil a 500 mil vidas (dependendo da estimativa). Em 2006, a revista de medicina The Lancet computava 650 mil “mortes adicionais”.

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As tropas americanas se retiraram em 2011 – para logo retornarem, a fim de ajudar combater o assim chamado “Estado Islâmico”, um brutal grupo fundamentalista nascido dos destroços do regime baathista de Hussein. Segundo o Ministério alemão da Defesa, 120 soldados da Bundeswehr estão atualmente estacionados no Iraque.

Agressão militar sob razões falsas

As duas razões alegadas pelos americanos para justificar a guerra eram mentiras: não se encontrou nenhuma arma de destruição em massa após a invasão; e o Iraque não participou dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 em solo americano, Saddam sequer tinha conexões com Osama bin Laden e os terroristas da Al Qaeda. As informações secretas em que tais alegações se basearam, ou eram falsas, ou exageradas.

“O caso é que eles tinham decidido o que queriam fazer, e aí tentaram encontrar razões para tal”, explica Stephen Walt, professor da Kennedy School de Harvard. “Não é que a inteligência estivesse informando a decisão: eles a manipularan ou ‘esculpiram’ para justificar o que já tinham decidido fazer.”

O ápice dessa campanha de influência pública foi em 5 de fevereiro de 2003, quando o secretário de Estado Colin Powell foi à Organização das Nações Unidas apresentar “provas” dos programas iraquianos de armas de destruição em massa, incluindo tentativas de adquirir armamento nuclear.

Após deixar o governo Bush, Powell foi um dos poucos altos funcionários americanos a lamentarem seu papel no caminho do país até a guerra, classificando o discurso na ONU como “uma mancha” em seu currículo.

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