quinta-feira, 11 setembro, 2025
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Dia da Consciência Negra: Advogada sofre ataque racista no INSS de Curitiba

Mariana Lopes foi vítima de racismo no INSS em Curitiba | Foto: arquivo pessoal

Plural

Neste domingo (20), Dia da Consciência Negra, a advogada Mariana Lopes será uma das homenageadas no Ciclo de Debates sobre a População Negra em Curitiba, no Solar da Cultura. A ocasião que seria de reconhecimento aos esforços para uma cidade menos racista, será mais um capítulo na luta por respeito para a advogada que nesta semana foi vítima de racismo enquanto trabalhava.

Na última quarta-feira (16) Mariana foi até a rua Cândido Lopes, centro da capital paranaense, para agendar uma perícia no INSS para uma cliente. A advogada acompanha o caso há três anos e desta vez optou por ir pessoalmente ao local para dar mais celeridade aos trâmites.

Logo que chegou ao prédio e pediu para falar com a servidora Catia Yoshida, responsável pelo atendimento nestes casos, houve hostilidade. Instantes antes, por telefone, Yoshida disse que não agendaria nada e tampouco atenderia a advogada.

No local, quando Mariana apresentou sua identificação profissional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), foi vítima do primeiro ataque. “Não sabia que preto podia ser advogado”, disse Yoshida, conforme contou a advogada ao Plural.

Apesar do ataque racista, a advogada continuou o procedimento para atender a cliente e pediu para que a perícia fosse agendada. A servidora novamente disse que não faria e mandou a própria Mariana anotar a mão outros lugares para que a consulta fosse marcada.

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

“Aí eu disse que não anotaria a mão e pedi uma certidão assinada e carimbada com os locais, dentro do que prevê a Lei. Mas ela disse que não ia fazer porque eu era preta”. Uma estagiária negra que estava no local começou a chorar. A Polícia Militar (PM) foi acionada, bem como representantes da OAB e uma equipe de televisão.

RACISMO

Quando a equipe da PM chegou ao endereço foi informada por funcionários de que as pessoas envolvidas no episódio racista não estavam mais no local – uma mentira. Os policiais foram novamente chamados e prenderam Yoshida em flagrante. O caso foi encaminhado para a Polícia Federal (PF).

A estagiária, conforme levantou o Plural, deve ser remanejada de setor porque de acordo com testemunhas foi coagida a não corroborar o crime racial em depoimento.

A reportagem tentou ouvir o procurador que acompanha Yoshida no caso, mas foi orientada a procurar a assessoria de imprensa da advocacia-geral da União, que ainda não respondeu aos questionamentos sobre o comportamento racista da servidora.

Yoshida foi presa em flagrante, mas na Polícia Federal o crime foi enquadrado como “injúria racial”, que, diferente de racismo, é passível de fiança. Depois de um dia da carceragem a acusada pagou R$ 3,5 mil e foi liberada.

REPERCUSSÃO

A situação grave de racismo tomou grandes proporções. Mariana Lopes, além de advogada, é deputada federal suplente pelo PSB, que emitiu uma nota repudiando a situação. “O PSB manifesta seu repúdio contra o ato de racismo sofrido (…) reiteramos nosso apoio à advogada Mariana Lopes (…)”, diz um trecho do documento, assinado pelo presidente do partido Luciano Ducci.

A Associação Brasileira das Mulheres de Carreira Jurídica (ABMCJ) também condenou o ataque,  lembrou que representantes da Comissão de Prerrogativas da OAB-PR esteve no local e criticou a incursão do crime como injúria e não racismo.

“Entretanto a ABMCJ entende se tratar de conduta nitidamente racista que, além de afetar direta e individualmente a advogada Mariana Lopes, atinge todos, em especial a população negra.

Esclarece-se ainda que o crime de injúria racial consiste em ofender a honra de alguém se valendo de elementos referentes à raça, cor, etnia, religião ou origem, e o crime de racismo atinge uma coletividade indeterminada de indivíduos, discriminando toda a integralidade de uma raça (…)

Assim sendo, o ataque nitidamente racista não violou apenas a honra da nossa associada, a advogada Mariana Lopes, mas sim, de todas(os) as(os) advogadas(os) e demais profissionais negras(os), nas diversas áreas de atuação no mercado de trabalho”, aponta o documento, assinado pela presidente nacional da ABMCJ, Alice Bianchini.

A Defensoria Pública da União e o Ministério Público também estão acompanhando o caso, que tomou grande repercussão, já que a vítima é uma das mais renomadas advogadas criminalistas do país.

A Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas (Abracrim) afirmou, em nota, que a servidora além de agir de forma racista, também “ofendeu e humilhou a honra da vítima, cerceando direito fundamental”.

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