quarta-feira, 12 novembro, 2025
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Bolsonaro agora dialoga com o universo católico; Lula busca pastores

Getúlio Vargas e Adhemar de Barros tiveram no mundo do sagrado fortes apoios, como o cardeal Leme e o padre “Dr. Rui”, alcoviteiro que depois virou secretário de Educação de São Paulo

 

Uma guerra quase santa está no epicentro da campanha presidencial, a poucos dias da eleição em que o país deverá decidir quem vai presidir a nação nos próximos quatro anos. A novidade, para mim e para milhões de outros que acompanham o processo em que Bolsonaro e Lula correm como francos favoritos, foi o aparecimento de alguém, no Horário Eleitoral na TV vestindo batina sacerdotal, apresentando-se como Padre Klaman (ou algo parecido) pedindo votos para o atual presidente.

A grave falha – e muito comum em redes sociais – foi o de apresentar o alegado sacerdote católico sem identificá-lo. Nome completo, paróquia em que atua, vinculação com Diocese e/ou congregação ou ordem religiosa – esses seriam dados essenciais para apresentar esse dito padre. Falha da coordenação da campanha, já que não se pode admitir que o dito embatinado seja um fake-padre…

Tais movimentos de Bolsonaro (que ainda se diz católico) não surgiram de graça. Tudo indica que são parte de uma receita, talvez inspirada nas pesquisas, que apontam o presidente muito mal avaliado no Universo de São Pedro. Isso justo nos dias em que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) – de definida posição de contestação ao governo atual – lançava documento reclamando de propostas do presidente “que não colocam o bem da Nação e seus filhos em primeiro plano”; enfim, uma manifestação claramente anti-Bolsonaro que, dias antes, fora fotografado ajoelhado, ao lado de Michelle (em pé) em missa numa paróquia de Brasília muito frequentada por militares. O filho Flávio, senador, agiu conforme a sapiente recomendação – “em Roma, como os romanos…” Isso embora se diga evangélico, o senador pelo RJ respeitou a sugestão milenar.

O ministro da Defesa fez uma leitura forte, de Paulo, o apóstolo, aquela que fala que “nem adúlteros, nem sodomistas, nem beberrões… entrarão no Reino dos Céus.” Lula, por sua vez, insiste em apontar que sua agenda, além de valores morais/éticos, diz respeitar no mundo do sagrado também as ações que para o bem comum, que devem, diz, marcar as religiões.

Adhemar de Barros

Claro que essas duas ações que o site/Coluna colhe sobre as campanhas em suas preocupações com o fenômeno religioso, tiveram outros episódios notáveis, como Lula falando para pastores no Centro-Oeste, e depois, para pastores e pastoras do Rio de Janeiro. Essa ida de Lula ao mundo evangélico deve estar no tônus da pesquisa Datafolha, que o mostra mal avaliado nesse segmento religioso. E até parte dos que conquistara recentemente.

O ex-presidente não faz concessões: “Igreja não é palco para política partidária”, que, quando o cidadão ou cidadã escolhe uma igreja para orar, “está em busca de espiritualização”. E basta. Lula, matreiro político de amplo espectro e forte nas assertivas – especialmente de contestação aos opositores – nunca se opôs, no entanto, a manifestações do universo católico a seu governo, com o que contou sempre com o apoio de líderes como frei Beto, parte da CNBB e o assessoramento de um dos ícones do esquerdismo católico, o ex-ministro Gilberto Carvalho, um ex-seminarista da Congregação dos Padres Palotinos. O qual vi crescer em Curitiba, onde chegou a comandar a Pastoral Operária na Arquidiocese da Capital.

Dom Sebastião Leme, o Cardeal Leme

Não sou dos que acreditam que a religião, sozinha, vá definir o pleito que se avizinha. Mas não tenho dúvidas que toques do Sagrado ajudarão muito nas urnas. O que me faz lembrar que um dos mais notáveis populistas que o Brasil já teve, Adhemar de Barros, usou e abusou desses “toques do sagrado”. A tal ponto que um padre – que escondia sua identidade real no telefone, se apresentando como “Dr. Rui” -, fazia o papel de alcoviteiro com a amante do político, Ana Gimol, qualidade que o fez ascender a secretário de Educação de São Paulo…

Getúlio Vargas nunca dispensou a orientação do cardeal Leme que, dizem, teria até convertido o materialista “pai dos pobres”. No Paraná – só para lembrar – tivemos nos anos 1950/60 a forte ação da LEC, a Liga Eleitoral Católica em apoio a Ney Braga. Primeiro em sua candidatura a prefeito de Curitiba.

Ney Braga

Enfim, não me contenho mais, e lembro uma frase lapidar atribuída ao cardeal Leme, mas, na verdade, sapiente expressão de Jesus: “Esteto ergo prudentes sicut serpentes et simplices sicut columbae”. Na tradução, “A prudência das serpentes e a simplicidade das pombas”, eis a fórmula que o Cristo nos recomenda para enfrentar tempos de turbilhões.

Como o mundo político de hoje no Brasil.

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