sábado, 15 novembro, 2025
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Nossa Curitiba: Torre dos sinos das Mercês

Por Vinicius Sgarbe, jornalista

Na última sexta-feira (22), fui à Missa na Paróquia Nossa Senhora das Mercês. Que Missa bonita, porque incluiu a fala de um frei a famílias enlutadas. Quanta sensibilidade!

Lá, fiz duas fotos. A primeira, com a nave acesa, a segunda totalmente no escuro, às cegas, quando as portas já estavam fechadas. Tivemos o privilégio de uma visita guiada. São as fotos que envio aqui.

Elas me levam a pensar que a luz muda tudo. O mesmíssimo lugar transformado de glória divina em sombra macabra. “Mas se andarmos na luz, como o Pai na luz está, temos comunhão uns com os outros”. No fim, o que a gente tem além de uma profunda consciência de Deus e um ao outro?

Mas a história melhora, eu acho.

Por dias seguidos eu tinha contado sobre uma experiência que tive em uma viagem ao interior do Paraná com meu amigo João Arruda.

Enquanto ele falava com atores do agro, e eu já tinha terminado meu papel de assessor, quis subir as escadas de um silo — aquele cilindro gordo é gigantesco que guarda grãos. É aquela escada caracol em volta da construção.

Quando cheguei lá em cima, quase tive uma parada cardíaca — com perdão do exagero. Eu estava solto, a muitos andares do chão, balançado por um vento forte, e sem nenhum equipamento que impedisse um mergulho direto no solo.

Fiquei com tanto medo da altura que não fui capaz de fazer uma única foto da paisagem.

De volta ao Mercês.

—Vocês querem ir à torre dos sinos? — pergunta André.
—Mas é claro que sim. — respondi rápido, com uma coragem suicida.

A escada metálica de serviço não tem qualquer preparação para uma subida turística, muito mais precária que a do silo. É propriamente um andaime para se trepar com capacete, cinto de segurança, botas e luvas antiderrapantes, óculos de proteção. Mas a gente não tinha levado essas coisas naquela noite.

Subimos, calculo, em comparação com o prédio em frente à torres, entre oito e dez andares. Quando cheguei à metade, pensei “eu vou morrer, hoje. Pior. Alguém vai morrer e eu vou ter de explicar na delegacia”. Mas não disse nada. Quis encarar o frio na barriga, rezando assim: “Deus, obrigado por me trazer de volta à experiência da altura, agora com mais consciência e chance de aprender”. Na ida, não olhei nada além do próximo degrau. Se eu me desviasse para o abismo, teria de abandonar meu propósito de subir na vida.

Com minhas mãos, toquei os dois sinos de duas toneladas e meia cada um, olhei a cidade pelas janelinhas da torre. Fiz uma chamada de vídeo para meu pai. Desci com muito mais medo do que subi, a ponto de segurar um vômito.

Mas neste domingo estou feliz por encontrar significado em uma trivialidade.

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