quarta-feira, 19 novembro, 2025
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Repercutindo: Clemente, o humanista que modernizou a PUCPR


Nesta segunda, depois de missa de corpo presente, na Capela Universitária da PUCPR, Clemente foi sepultado do Cemitério Padre Fuss, de São José dos Pinhais

 

Com a morte, no domingo, do irmão Clemente Ivo Juliatto, em Curitiba, fecha-se parte de um diferenciado grupo de irmãos Maristas da Província Centro Sul (sede em Curitiba). Ele é dos remanescentes maristas – não padres – que tiveram sua formação religiosa e de status universitário no antigo endereço, localizado nas Mercês. Lá, num  prédio neoclássico,  de alguns milhares de metros quadrados, construção dos anos 1920, os religiosos foram preparados para uma vida voltada ao ensino, segundo a proposta do fundador da congregação, Marcelino Champagnat, hoje santo da Igreja Católica Romana.

Esse enorme espaço cedeu lugar, nos anos 1970, à Universidade Tuiuti, que o locou e lá montou parte de seus cursos. O dono do imóvel passou a ser um poderoso cacique do agrobusiness. E os maristas situados no Paraná passaram a ser formados em novos endereços, o que, de certa forma, refletiu a diminuição acentuada de vocações para a vida de irmãos educadores.

TUDO COMEÇOU ASSIM

A história de Clemente é preenchida de pontos salientes. A começar pelo detalhe que ele me revelou para o livro “Vozes do Paraná, Retratos de Paranaenses”, quando o fiz um dos personagens da publicação: o pai, um pequeno agricultor de São José dos Pinhais, por anos entregou sua produção ao seminário dos Maristas. O que facilitou, dizia, a decisão do filho à vida consagrada.

Clemente – dono de uma forte alma de humanista -, formou-se em Matemática. Mas o seu interesse  mesmo era  pela educação universitária. Foi  por isso que se graduou nos Estados Unidos em Educação Univesitária, matéria em que se doutorou.

Afável, gentil, uma alma aberta às manifestações culturais, Clemente Ivo Juliatto ao retornar ao Brasil acabou sendo escolhido Reitor da PUCPR, final dos anos 1980.

Campus Rebouças da PUCPR

Essa passagem pela reitoria, em três mandatos, foi muito importante para consolidar o perfil de universidade de ponta que hoje tem, acentuada, claro, pelo período de Valdemiro Gremski como reitor da PUC-PR (e presidente do Conselho de Reitores de Universidades Brasileiras.

Clemente marco suas gestões na PUICPR por ações essenciais. A primeira delas, a consolidação física e recursos humanos do campus Rebouças, em Curitiba, com o que contou sempre com a colaboração do arquiteto Manoel Coelho. A biblioteca da PUCPR é apenas um dos indicadores dessas mudanças que Juliatto promoveria, como também a consolidação de campis em Londrina, Toledo e Maringá.

BIBLIOTECA: UM MARCO

Uma boa mostra do espírito criativo, inquieto, de Clemente foi a Biblioteca da PUCPR, local em que o amplo acervo bibliográfico divide espaço com obras de arte. Uma delas, mural assinado por Poty.

Irmão Clemente foi, enfim, o modernizador da PUCPR, preparando caminhos que seu sucessor, Valdemiro Gremski iria consolidar com reconhecimento até internacional da instituição.

A família de Juliatto, montada a partir do pai, um pequeno agricultor, ampliou sua presença na atividade econômica, sendo dona do Frigorífico Juliatto, de São José dos Pinhais.

O forte mesmo da PUCPR com Juliatto foi sua inserção na comunidade. Um dos “saltos” de qualidade da instituição foi a assunção do controle da Santa Casa de Misericórdia de Curitiba, assim como, depois, a construção do Hospital Marcelino Champagnat.

Biblioteca da PUCPR com vitrais de Poty Lazzarotto

ACADÊMICO DA APL

Acadêmico da Academia Paranaense de Letras, Juliatto há pelo menos dois anos fazia o que mais o agradava: escrevia seus livros sobre educação e ensino. Vivia na casa que os Maristas mantêm em São José dos Pinhais para abrigar seus quadros eméritos, os aposentados do dia a dia da sala de aula.

Ah, não posso esquecer de um enorme feito de Clemente que foi a instalação de um amplo projeto de recolhimento de animais que devolvia à vida selvagem, em Tijucas do Sul, que também incluía posto de saúde e reflorestamento, além de um museu de arte.

Outro ponto saliente deixado por irmão Clemente foi a Fazenda da PUCPR, moderníssima instalação  dedicada ao ensino de veterinária e agronomia, em Fazenda Rio Grande.

Enfim, compromissados em apenas fazer justiça a Clemente, assim registro essas linhas. Elas têm a veracidade essencial e registram pleito de gratidão de antigo aluno da UCP (depois PUCPR), um admirador da obra Marista.

Em tempo: sou informado que irmão Rogério, o novo reitor da PUCPR, foi um discípulo de irmão Clemente. Seguiu as pisadas de seu patrono, doutorando-se em administração universitária.

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