quinta-feira, 20 novembro, 2025
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Memórias: velhos campos de futebol de várzea em Curitiba

Por Eloi Zanetti, publicitário

Quando garoto, nos idos de 50 e 60, frequentei quatro campos de futebol de várzea: o Yuracã, no Hugo Lange, entre a rua Itupava e o Country Club. Ao lado desse campo havia uma pequena lagoa onde os meninos mais corajosos costumavam nadar; até que um dia, alguém, por maldade, jogou restos pontudos de folhas de zinco oriundos de uma serralheria – ninguém mais ousou banhar-se.

Havia também o Campo do XV onde hoje é o Jardim Social – ficava num alto de onde se via o perfil da Serra do Mar. O terceiro era o Continental, ao lado da BR-116, hoje a inacabável Linha Verde, em frente à igreja
N.S. de Fátima quase vizinho da antiga Cotrasa. Era um campo em declive – o time que jogava o seu tempo na parte de cima tinha vantagens sobre o de baixo. Morando no Cajuru, escutávamos os alto falantes do Estrela Dalva, localizado ao lado do IBC – Instituto Brasileiro do Café.

O jornalista Nelson Comel

Este, existe até hoje, e completou 53 anos no início deste mês. Aos sábados e domingos, além de se ouvir as músicas e os reclames dos Serviços de Alto Falante Brasil, do saudoso Boscardim, ouvíamos o ronco dos pequenos aviões que em voos amadores partiam do Aeroclube do Bacacheri. Campos famosos, mas dos quais eu não tive convivência, foram o do Combate Barreirinha que ficava onde hoje é a Vila Santa Ephigênia.

Deste campo saiu um dos melhores jogadores de todos os tempos do Coritiba – o famoso Krieger. O Triestre em Santa Felicidade, fundado em 1937, reduto dos italianos e descendentes, também revelou grandes craques e funciona atualmente quase que como um time profissional, tal a sua bem montada estrutura. Somam-se os Campos do Beca – Bloco Esportivo Capão da Amora na Vila Izabel e da Vila Iná, o Flamenguinho na Santa Quitéria e o Monte Alegre onde hoje é a Associação dos Funcionários do Banco do Brasil e o Bangu na Campina do Siqueira (oito vezes campeão seguido da suburbana).

Na mesma região havia o Penharól e o Centro Operário Camponês. E no Jardim das Américas, o campo do Buru. Voltando mais no tempo nomeio o campo da Galícia na praça 29 de Março. Curitiba era plena desses campos onde reinava, além da competitividade dos times, o convívio social, a amizade e o chope da Brahma – esses vinham em sólidos barris de madeira, precisavam ser “sangrados” e eram serviços em barracas montadas em estruturas de madeira. Mais tarde os campeonatos passaram a ser patrocinados pela cerveja Kaiser.

Jaime Lerner e Comel

LOJAS KARAN

Empresas se aproveitavam desses encontros para promover festivais com taças confeccionadas pela Loja Karan, vereadores ganhavam votos ao doarem jogos de camisa, calção e meia aos jogadores. E se alguém de um time quisesse desafiar outro, tinha que encaminhar um “ofício”, isto é, uma carta ao responsável pelo time adversário – marcava-se a data e a peleja acontecia. O jornalista Nelson Comel, gaúcho de Guaporé, cidadão honorário de Curitiba, pai da apresentadora da RIC, Cecilia Comel, manteve durante cinco décadas, no jornal Tribuna do Paraná, uma coluna que só tratava de futebol de várzea onde promoveu um campeonato chamado Peladão – o mais famoso do Brasil e, oficialmente, o maior do mundo tal era o número de times participantes.

A Poupança Bamerindus foi uma das patrocinadoras. Na primeira gestão Jaime Lerner foram construídos várias canchas de futebol e de outros esportes sempre perto dos terminais de ônibus, o dos Peladeiros (1981) no Parque Olímpico do Cajuru é um exemplo disto.  Saudoso, lembrei-me de um texto do escritor uruguaio Eduardo Galeano: “Fomos, jogamos, não ganhamos, nem perdemos – nos divertimos”.

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