sábado, 22 novembro, 2025
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Opinião de Valor: Nunca se comeu tanto milho

Evaristo de Miranda – Revista Oeste

Quem toma uma cervejinha com torresmo, frango a passarinho, iscas de peixe ou fatias de salame consome milho. Ele é a base das rações de vacas leiteiras, suínos, aves e da piscicultura. E entra na fabricação de cervejas e uísques. Originário das Américas, o milho ajudou muitos países a superarem o risco da fome nos últimos séculos. Agora, com uma segunda safra recorde, ajudará o Brasil a reduzir os preços de alimentos e os índices de inflação. E trará divisas, dada a forte demanda externa pelo produto.

Em 1751, na França, a Encyclopédie, o “dicionário racional das ciências, artes e profissões”, referindo-se ao milho informava: “O trigo da Turquia é sempre um socorro diante da fome”. Em 1776, na Inglaterra, Adam Smith considerou milho e batata como “os dois mais importantes aportes que a agricultura da Europa, e talvez a própria Europa, recebeu da expansão de seu comércio e sua navegação”. Na Itália, no começo do século 19, Filippo Re, agrônomo conhecido, atestava: “Após a introdução desse grão (a Itália) não provou mais do terrível flagelo de uma verdadeira fome”. Haja polenta!

O milho é considerado patrimônio biológico, agrícola, cultural e econômico do México. Com razão. A domesticação do milho (Zea mays) começou há mais de 10.000 anos no México. Os mais antigos registros de cultivo do milho datam de 7.300 anos, em ilhas próximas ao litoral mexicano. Restos arqueológicos de milho da caverna Guila Naquitz (Oaxaca) datam de 6.250 anos. Há pelo menos 2.500 anos, o cultivo se espalhou pelas Américas. Foi o alimento básico das civilizações olmecas, maias, astecas e incas, reverenciado na arte e na religião, como são o trigo na Europa e o arroz na Ásia.

O nome do gênero científico do milho Zea deriva do latim zēa e do grego antigo ζειά, zeiá, denominação do trigo-vermelho ou espelta (Triticum spelta). A espelta foi muito consumida na Europa da Idade do Bronze à Idade Média. Hoje, mantém presença no mercado de alimentos alternativos.

A origem do nome da espécie, mays, é mais complexa. Em sua primeira viagem à América, Cristóvão Colombo, em Cuba, encontrou cultivos desconhecidos e, entre eles, o milho. Certamente eram espigas e grãos bem pequenos, muito diferentes dos milhos híbridos atuais. Colombo assimilou a planta e não o nome. Acreditou ser um tipo de painço (Panicum miliaceum).

TECNOLOGIA

Com tecnologia, a agricultura brasileira planta soja no verão e segue com o cultivo do milho no outono. Os investimentos são constantes: escolha correta do milho híbrido, tratamento adequado das sementes, controle eficaz de plantas daninhas antes do plantio e durante o crescimento, fertilização correta dos solos, manejo preventivo de pragas (lagartas, percevejos e cigarrinhas) e doenças para proteger o potencial produtivo do milho híbrido, com impactos muito positivos na produtividade.

A safra total de milho (verão + outono) está estimada em 115,6 milhões de toneladas, 32,7% superior à do ciclo anterior, segundo a Conab. Apesar da queda de 20,4% da primeira safra no Sul, por ausência de chuvas. O cenário de ampla oferta afastou compradores. Resultado: negócios lentos e um mercado de milho momentaneamente retraído com reflexos negativos até na Argentina e no Paraguai, um dos países onde mais cresce a produção de grãos. E os agricultores brasileiros por lá têm muito a ver com essa dinâmica.

Nas festas juninas não faltarão milho cozido e assado, nem canjica, curau, pamonha ou pipoca. A nova safra de milho ajudará no barateamento das rações e talvez traga quedas nos preços de frangos, suínos, embutidos, leite e outros produtos. Quem sabe até da cerveja.

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