quinta-feira, 26 junho, 2025
HomeMemorialOpinião de Valor: luta maniqueista

Opinião de Valor: luta maniqueista

Ike Weber (*)

Ike Weber
Ike Weber

O Brasil vive uma guerra maniqueísta em que só se permite a existência de dois lados. O dos que adotaram o bordão “não vai ter golpe” e o dos que acham que “são todos uns ladrões” e a corrupção deve ser combatida com impeachment. Na vida, assim como na política, há mais do que dois caminhos.

Hoje não me sinto completamente à vontade em qualquer trincheira desta guerra dualística. Longe de ser uma falta de opinião, ou algum tipo de isenção, esse é um posicionamento político.

Historicamente votei no PT, em várias esferas, a primeira vez quando Claus Germer disputou a prefeitura de Curitiba em meados dos anos 80, época em que a palavra de ordem era ainda mais antiquada: “os comunistas vão invadir a propriedade alheia”. Era um escândalo para um jovem da alta classe média. Da mesma forma votei mais de uma vez em Lula, desde as primeiras eleições diretas para a Presidência da República, diante da novidade Collor de Mello.

Claus Germer
Claus Germer

Sempre defendi redução das desigualdades, os avanços sociais e a representatividade das minorias. Na prática sou mais de esquerda que o PT de hoje e do que alguns militantes de boutique. Quem me acompanha nas expedições pelo mundo sabe da minha convivência com comunidades isoladas e miseráveis e com minorias étnicas. Já corri mais o Brasil, em todas as suas regiões, do que a grande maioria dos eleitores.

Não defendo o impeachment sem bases sólidas e legais. Fica ainda pior ao enxergar a composição da linha sucessória: Temer, Cunha, Renan Calheiros ou mesmo qualquer que seja o presidente do STF. Porém não me sinto representado e nem sou partidário do governo da presidente Dilma Rousseff ou de qualquer nova República criada na cidade de Curitiba.

Ainda que sem absoluta convicção e dúvida quanto a uma possível influência religiosa, votei em Marina Silva no primeiro turno, pelos ideais socioambientais. Apesar da campanha de desconstrução de imagem feita pelo PT e logo pelo candidato do PSDB. Anulei o voto no segundo turno, em que pese a crença de que “tudo é melhor do que anular um voto”. Essa também foi uma posição política, discordante. Na história, uma bandeira ideológica dos anarquistas.

Não me identifico de maneira alguma com os que defendem a ditadura militar ou querem ver o homofóbico deputado Bolsonaro comandando o país, a partir de 2018. Reajo de maneira diferente dos que se sentem incomodados com as conquistas dos governos Lula, período de transformação histórica na vida da nação, com ápice em 2010, ainda em plena crise financeira internacional. Digo isso mesmo reconhecendo que determinadas circunstâncias e conquistas anteriores tenham beneficiado o ex-presidente.

Hoje estou na Ásia, ainda bem. Se estivesse no Brasil estaria menos satisfeito. Porém não iria às ruas apoiar este ou aquele grupo político e engrossar o coro, possivelmente distorcido e radical, de manifestantes.

Jamais condenaria as manifestações, desde que democráticas e civilizadas, e sem qualquer semelhança com a fúria que se tornou a torcida pelo futebol no país.

Precisamos investigar sem topes a corrupção. Assim como precisamos traçar estratégias e lutar pelo desenvolvimento econômico e social, sem desprezar a questão ambiental. Isso está além da briga PT x PSDB e das ânsias de poder do PMDB. E esse, é sim, um posicionamento político.

* IKE WEBER é jornalista. Trabalhou na TV Paranaense, Canal 12, de Curitiba; foi assessor de Comunicação Social da FIEP-PR

Leia Também

Leia Também