quinta-feira, 29 maio, 2025
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Memória paranaense: técnicos de edificação e eletrônica celebram cinquentenário de formatura

Após 50 anos, ex-alunos recebem seus certificados de conclusão de curso. Sentados no palco o reitor da UTFPR Prof. Marcos Flávio de Oliveira Schiefler Filho e a professora Rossana Aparecida Finau, Diretora Geral do Campus Curitiba.

Celebração é parte dos 112 anos da hoje
Universidade Tecnológica Federal do Paraná

 

No início deste e novembro de 2021 ex-alunos dos cursos de Edificações e Eletrônica da antiga Escola Técnica Federal do Paraná comemoraram, no auditório da UTFPR, o 50º aniversário de suas formações como técnicos naquelas especialidades. O evento, que foi cercado com muita expectativa e emoções, teve o apoio da Universidade Tecnológica Federal do Paraná que viu, nessa comemoração, parte da história de seus 112 anos.

Na época de suas formaturas a diplomação ocorreu com missa e baile, não havendo a entrega do diploma de Técnico, por isso a emoção desses 50 anos, momento que todos receberam seus certificados (foto) de conclusão de curso das mãos do reitor da UTFPR, Prof. Marcos Flávio de Oliveira Schiefler Filho.

As Turmas são do período de 1968 a 1970, quando de lá saíram 42 edificadores e 44 eletrônicos, desses 10 edificadores e 5 eletrônicos já falecidos receberão homenagens especiais nessa comemoração cinquentenária.

EX-PROFESSORES

Os ex-alunos também homenagearam ex-professores como patronos, paraninfos e com o nome das Turmas. O nome escolhido por unanimidade foi o do Prof. Ivo Mezzadri, aluno, professor e diretor da ETFPR e do CEFET, instituições precursoras da UTFPR. O patrono prof. Fernando Pereira Mendes (Topografia), e o paraninfo prof. José Valdomiro de Macedo (Tecnologia de Materiais) da Edificações foram homenageados “in memoriam”. Os da Eletrônica são, respectivamente, Prof. Alberto Martins dos Santos (Prática) e Prof. João Roberto Ricobom (Teoria).

Rossana Aparecida Finau, Diretora Geral do Campus Curitiba, ladeada por dois representantes das turmas Edificação e da Eletrônica, com uma das obras do artista Roberto Kenji Fukuda, de uma coleção de 12 gravuras, que ajudaram a realizar as comemorações.

WEB FACILITOU ENCONTRO

A internet e as redes sociais viabilizaram e agilizaram o reencontro de amigos que já não se viam há muitos anos. Essa tecnologia da comunicação ganhou força para milhões de grupos de relacionamento em todo mundo, como grupos de trabalho, de movimentos sociais, familiares e dos tempos de escola. Os grupos sociais de 65+ são os mais ativos nas redes, pois são formados por pessoas que tiveram iniciação na internet desde seu surgimento e se aposentaram com domínio desta ferramenta. Nos últimos 10 anos, com o fortalecimento das redes sociais, ficou mais fácil localizar antigas amizades, caso desses ex-estudantes de Edificações e Eletrônica.

Para o edificador Jubal Sérgio Dohms, ainda na ativa profissional como editor de livros e professor de I Ching, “nossa geração se formou nos níveis técnico e superior sem o computador. Nem imaginávamos o que seria a internet e as redes sociais para o nosso trabalho no dia a dia”. Conclui Jubal: “a informática entrou na vida profissional dessa faixa de profissionais 20 anos após suas conclusões nos cursos técnicos, nos anos 70”. “Os profissionais formados em Eletrônica, na ETFPR, pela natureza do perfil dos seus alunos, tiveram mais afinidade com a computação”, lembra Aparecido do Carmo Martins, empresário da área.

Para Davi Gusmão, edificador que fez carreira na área de informática no Bamerindus, depois HSBC, “no início o computador era apenas uma ferramenta de trabalho na forma de ilha produtiva, ou seja individual, e nos anos 80 com a liberação da internet para além das universidades o computador pessoal ganha o mercado produtivo e estabelece novos parâmetros de negócios, serviços e produtos”.

Ex-alunos do curso de Edificações da antiga Escola Técnica Federal do Paraná comemorando o 50º aniversário de formatura.

SEGUNDA OPÇÃO

Outra realidade social em todo mundo era que as pessoas que pertenciam ao grupo 65+ estavam se aposentando e a maioria não tinha novos horizontes de trabalho, seja por opção ou por discriminação do mercado. “Nota-se que o ficar sem fazer nada ou usar as redes sociais esse grupo 65+ optou pela segunda” afirma o edificador-engenheiro Leo Polatti Junior.

O conhecimento da internet e o domínio no uso das redes sociais permitiram que, Edificadores e Eletrônicos iniciassem alguns encontros esporádicos com os ex-colega, após 40 anos de sua formação.  O aposentado edificador-engenheiro Antônio Sérgio Barbosa da Silva uniu a aposentadoria e a internet para melhorar sua qualidade de vida: tornou-se um montanhista e trilheiro de roteiros interessantes.

Por causa da internet e do tempo disponível consegue levantar todas as informações essenciais para uma trilha, como clima, tempo, distâncias e apoio. Daí põe o pé na estrada por esse Brasil a fora. “E ainda participo de grupos sociais dos tempos de engenharia e da Escola Técnica Federal do Paraná, mas nesses casos prefiro os encontros presenciais, mais agradáveis e emocionantes”, concluiu.

Reitor da UTFPR Prof. Marcos Flávio de Oliveira Schiefler Filho falando.

“OS REENCONTROS COMEÇARAM COM OS EDIFICADORES”.

Os edificadores formados em 1970 iniciaram seus encontros a partir de 2012 e logo se estruturaram socialmente, com apoio até de “boletim oficial” para registros das principais notícias dos colegas. Guivan Bueno afirma que “essa estruturação dos encontros e as formas de comunicação foram fundamentais para o grupo, que no dia 5 de novembro realizaram seu maior e mais criativo evento: a comemoração dos 50 anos que estão formados, com homenagem aos colegas falecidos”.

Para Dalva Stropero, edificadora que mora em Irati, “só pude rever meus colegas do curso técnico da Escola Técnica Federal do Paraná graças as redes sociais e, com elas, participar presencialmente dos eventos anuais e esporádicos. A internet e as redes sociais são maravilhosas, mas não substituem um abraço”.

Luiza Maria Nunes, edificadora e educadora física que mora em Blumenau, uma das primeiras a participar dos eventos do grupo nessa fase das redes sociais vai mais longe “a reconquista das amizades com a valorização de memórias é fundamental para a melhoria da nossa qualidade de vida, esse é o lado positivo das redes sociais, sabendo usá-las com certeza a vida torna-se mais saudável”.

“REENCONTROS VIA REDES SOCIAIS CRIAM NOVOS MERCADOS”

O eletrônico Carlos Zanetti, que já conheceu mais de 120 países, tem uma visão mercadológica sobre a tríade amizade – memória – redes sociais: “os aposentados, pertencentes ao nosso perfil social, de renda e escolaridade, formam fortes grupos de consumo social em restaurantes e cafés, viagens e hotéis, assim movimentam a economia, prova disso são os mais diversos pacotes de produtos e serviços para a faixa dos 65+”. “A visão de mercado para o público 65+ é o tipo de empreendedorismo que mais cresce em todo mundo.

Eles têm renda contínua e pontual, suas necessidades de bens patrimoniais e materiais estão resolvidas, gozam de boa saúde e o elevado grau de escolaridade fazem deles um público potencial para aquecer qualquer segmento de mercado” afirma o edificador administrador Othon Mader Ribas, nomeado diretor financeiro dos 50 anos.

O edificador militar Ernani Alves da Silva exemplifica: “vejam nosso caso: um jantar para 50 eletrônicos, um almoço para 45 edificadores, contratação de uma designer gráfica, aquisição de 80 uniformes para a solenidade, contratação de fotógrafos, despesas de logística, compra de obras de arte, impressão de diplomas e canudos, passagens aéreas e terrestres e outras coisas. Acredito que esse singelo evento que acontece graças ao uso das redes sociais deverá girar em torno de R$ 40 mil reais. Imagine quantos eventos semelhantes estão ocorrendo nesse momento, no Brasil e no mundo”.

“EDUCAÇÃO PROFISSIONAL COM QUALIDADE: SEGREDO DO SUCESSO”

Os cursos técnicos de Edificações e Eletrônica de 1970 na Escola Técnica Federal tinham uma base curricular semelhante, com disciplinas básicas e profissionais. A Edificações tinha 3 mil horas/aula nos seus três anos de formação e a Eletrônica, com menor número de disciplinas profissionalizantes mas eram 60% do total do curso, ou seja, 2028 h/aulas do total de 3344 h/aulas.

As disciplinas básicas eram iguais para todos os cursos técnicos: português, matemática, física, química, inglês, história, educação física e moral e cívica, o restante eram disciplinas técnicas que variavam entre 9 e 11, de acordo com cada curso (ver quadros).  “Tivemos 540h de aulas práticas, o que significa dizer que só com essa disciplina foram 40% a mais do que os atuais cursos profissionalizantes de edificações”, afirma Guivan Bueno.

Essa afirmação é reforçada pelo eletrônico Fernando Bourges “na Eletrônica foram 781 horas de Prática Profissional num total de 2028 h/aulas. Em comum, todos têm a mesma opinião segundo Carlos Zanetti: ”o curso técnico foi fundamental em nossas vidas, seja como base de um conhecimento escolar, cognitivo e aquele que desenvolveu e potencializou nossos Quocientes de Inteligência e Emocional para a conquista dos novos tempos que viriam, seja na faculdade ou no mercado do trabalho”.

Dos 42 edificadores e 44 eletrônicos, segundo registros dos próprios colegas, todos obtiveram êxito na vida profissional. Jubal Dohms, hoje editor e mentor holístico, “o curso técnico para nossa geração e com nosso perfil social era um divisor de águas. Estávamos lá, na Escola Técnica, para vencer a correnteza das águas. Seguir seu curso significava aceitar a condição social que a correnteza impunha, ou nadar contra ela paraadquirir o conhecimento necessário e ajudar nossos pais a conquistar a tão almejada ascensão social sonhada”.

Teruko Shoji, formada em eletrônica vai mais além: “no ginásio industrial os nisseis e sanseis chegavam a ser 20% em cada turma e caímos para menos de 1% no curso técnico. No período do ginásio adquiria-se conhecimentos em disciplinas básicas como em qualquer escola e, a cada semestre, fazíamos uma iniciação prática em laboratórios de elétrica, eletrônica, industrial e marcenaria. No entendimento dos imigrantes isso bastava para se “abrasileirar”, daí voltava-se para casa e, assim, ajudar os pais no campo”.

 “MECENATO COM A ARTE DO MESTRE FUKUDA FINANCIA COMEMORAÇÃO DOS 50 ANOS”

Ao contrário dos mecenas das eras romana e renascentismo, quando reis, imperadores, príncipes, bispos e burgueses poderosos patrocinavam a vida dos artistas em troca das suas obras e faziam questão que a sociedade e o povo soubessem de suas virtudes. Nos dias atuais boa parte do mecenato guarda anonimato. É o que acontece com essa comemoração dos 50 anos de formados de edificadores e eletrônicos dos cursos técnicos da Escola Técnica Federal do Paraná, em 1970. Fukuda tinha amigos admiradores de suas obras.

Um deles, que ele o considerava como seu mecenas e possui um dos maiores acervos do artista, doou uma coleção de 12 gravuras de 70cm x 70cm para que os formandos realizassem essa comemoração. Em vida, o pintor abstracionista Roberto Kenji Fukuda era descendente da Terra do Sol Nascente em cuja cultura se inspirava para criar e pintar suas obras consideradas como uma das melhores do mercado brasileiro. Fukuda morreu em fevereiro deste ano de covid. Deixa um legado de obras que o colocam ao lado dos famosos patrícios como Manabu Mabe, Fukushima, Wakabayashi e Tomie Otake.

Suas obras despertam paixões entre admiradores das artes, curiosidade entre iniciantes, são referências didáticas e pedagógicas em cursos de pintura e alvo de colecionadores. Com o desaparecimento do artista, suas obras ganharam novos patamares de preço. Essas gravuras já são comercializadas com preço médio de 2 mil reais cada.

 “FRASES QUE PERPETUARAM OS VALORES DOS PROFESSORES”

Durante o período do planejamento e organização das comemorações dos 50 anos o entusiasmo tomou conta dos Edificadores e Eletrônicos. Lembranças de frases e orientações ficaram na memória dos formandos de forma fragmentadas, mas a empolgação as reconstruiu. Assim, elas foram editadas em diplomas e discursos.

Algumas delas:

  • Professor IVO MEZZADRI, o Nome das Turmas “O Brasil passa por profundas mudanças institucionais, políticas, sociais, econômicas e tecnológicas. Até aqui a Escola ofertou o conhecimento para enfrentar as exigências dessas mudanças. A partir de agora, nos próximos 50 anos, é com vocês”.
  • Professor FERNANDO PEREIRA MENDES, patrono “in memoriam” da Edificações “O crescimento do saber técnico aqui o fazemos para transformá-los em Edificadores qualificados, éticos e responsáveis. Com esses valores construam suas vidas e a do País”
  • Professor JOSÉ VALDOMIRO DE MACEDO, paraninfo “in memoriam” da Edificações “Você quer se dar bem na vida ou quer ser feliz? Em ambos os casos, estude. Melhor é ser um técnico em Edificações”.
  • Professor ALBERTO MARTINS DOS SANTOS, patrono da Eletrônica “O mundo será eletrônico. Portanto, estudem”.
  • Professor JOÃO ROBERTO RICOBOM, paraninfo da Eletrônica “Para muitos sou João, para outros João Roberto. Para vocês Professor Ricobom, rico de conhecimento e bom para ensinar”

(Dados coletados e redigidos por Noguchi Spazen: noguichi@spazen.com.br)

(Crédito das fotos: Mauro Campos e Renato Meireles)

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