
Paulo Koehler, fotógrafo, psicanalista, psicólogo, professor da UFPR, é autor de um dos livros significativos sobre um momento da sociedade paranaense do século 20: “Didi Caillet, a Musa dos Paranistas”.
Como a maioria de obras de cunho antropológico – e o livro faz um mergulho na Antropologia -, não teve a repercussão que merecia. Espero que, pelo menos, esteja acessível ao público nas boas bibliotecas do Estado.
Conheço bem Paulo Koehler, desde quando ele, mocinho, já se mostrava uma espécie de “filho rebelde” de Roaldo e Léa (Soares) Koehler, sempre contestando, com argumentos lógicos (outras vezes, como exercício de pura teimosia carinhosa) o pai. Uma contestação respeitosa, exercício de inteligência, é certo.
2 – ROALDO INESQUECÍVEL
O pai de Paulo Koehler, o médico Roaldo Koehler, pertence a um universo especial da memória paranaense. Foi secretário Estadual de Saúde, diretor clínico do Hospital N.S da Graças, médico da UFPR, e um dos braços-direito de Dom Pedro Fedalto, na Arquidiocese de Curitiba. Só quem com ele conviveu, como aconteceu comigo ao trabalhar como editor do histórico jornal Voz do Paraná, de que ele era o presidente, pode assegurar com tanta certeza a amplidão ética e capacidade de doação à comunidade que o doutor Roaldo tinha.
3 – “ENFANT TERRIBLE”

Não me surpreende que Paulo, o “enfant terrible” daqueles anos 1970, quando nos conhecemos, tenha escolhido Didi Caillet para tema de seu livro. Nem que a musa dos paranistas esteja no centro do projeto “Encontro coma Palavra”, na exposição que ele fará hoje, 23, quinta-feira, às 19h30 min, na Biblioteca Bento Munhoz da Rocha, do Graciosa Country Club.
Afinal, posso testemunhar: por diversas vezes ouvi amplas digressões em torno da Miss Paraná de 1920, promovidas por Paulo e da qual toda a família participava. Isso incluía, por exemplo, até o Chacon Junior, um agregado, espécie de filho postiço de Roaldo e dona Léa, permanentemente acolhido na casa da Rua Maurício Caillet (isso mesmo), no Batel.
4 – POESIA GRAVADA
Na exposição de hoje Paulo Koehler mostrará ângulos da vida dessa mulher cuja beleza e categoria – “aplomb”, como diriam antigos cronistas sociais – a projetaram nacionalmente, embora não tenha ganhando o título de Miss Brasil. Mas Didi ficou com outros significativos títulos, como o de ter sido a primeira poeta brasileira (teve 3 livros publicados) a ter suas poesias gravadas num disco, o chamado LP.
Mulher de posses recebidas de raízes, Didi encantava os curitibanos, que a viam desfilar na sua garbosa “baratinha”, um automóvel caríssimo e muito bonito. Naqueles dias não só os carros eram raros: mais raro ainda uma mulher ter carteira de motorista. Como motorista, Didi quebrava tabus.
5 – NA ACADEMIA DE LETRAS
Há detalhes que certamente não passarão esquecidos nessa imersão que Koehler fará na vida e obra da chamada musa dos paranistas. Um deles, o de que Didi era cunhada de Pedro Calmon, que fora reitor da Universidade do Brasil, historiador e membro da Academia Brasileira de Letras. Pois ela, convidada pelo cunhado, era frequentadora, sempre que no Rio, da chamada Casa de Machado de Assis. E, claro, lá era paparicadíssima pelos ‘imortais’.