Dados divulgados pelo Ministério da Saúde indicam que o Brasil poderá alcançar na próxima semana a marca de 2 milhões de testes para o coronavírus – menos de 10% do total de 22 milhões prometidos pelo governo. De acordo com o portal Worldometer, que compila informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças, de fontes oficiais dos países, de publicações científicas e de órgãos de informação, o Brasil é um dos países que menos testes fez: menos de 300 pessoas por cada um milhão de habitantes. Essa defasagem ajuda a entender porque as notificações são de apenas 8% do total, segundo nota técnica do Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde, no Brasil, e revela uma falha crucial no esquema de controle da contaminação pelo coronavírus.
CONFINAMENTOS
“Muito se fala sobre os efeitos do confinamento sobre a economia, mas quase nada está sendo feito para repetirmos aqui o exemplo da Coreia do Sul, que não entrou em quarentena porque testou milhões de pessoas e, com isso, conseguiu controlar o contágio”, destaca Maria Beatriz Gonçalves, estrategista da Purpose, responsável pela campanha nacional por mais testes de coronavírus.
NA COREIA, UM MODELO
Na Coreia do Sul, as autoridades públicas agiram rápido para conter o surto. Em duas semanas após a primeira confirmação, o país criou uma estrutura de guerra para aumentar a testagem dos sul-coreanos. O país, que tem cerca de 50 milhões de habitantes, passou a produzir 100 mil kits por dia e a controlar cada passo de pacientes com caso positivo. O país testou 9.310 pacientes por milhão. A Alemanha, outra nação com baixo índice de contaminação, testou 15.730 pacientes por milhão. “Apesar de todos os esforços do governo, se o Brasil não elevar drasticamente a testagem para o coronavírus, veremos o pico da pandemia ser sucessivamente postergado pois nos manteremos em trajetória ascendente de contaminação por mais tempo que o necessário”, alerta.
A TESTAGEM IMPORTANTE
A testagem é especialmente importante nos casos assintomáticos. De 25% a 50% dos infectados não desenvolvem sintomas, segundo a Universidade de Columbia, mas podem ser responsáveis por até dois terços da contaminação. É por isso que a campanha virtual por mais testes permanecerá no ar. Depois de duas semanas de projeções em prédios de grandes capitais brasileiras, ela manterá a petição aberta no site https://www.janeladapressao.com.br/, onde é possível enviar e-mail a representantes políticos cobrando por mais testes, bem como perfis no twitter.com/janeladapressao, instagram/janeladapressao e facebook/janeladapressao.
DESIGUALDADE SOCIAL
Apesar de defasados, os dados indicam que a desigualdade social influencia na taxa de mortalidade: de todas as hospitalizações pela Covid-19, 18,9% são de pessoas pardas e 4,2% de pessoas pretas, mas as porcentagens sobem quando se trata de óbitos, ficando em 28,5% e 4,3%, respectivamente. Do outro lado, as hospitalizações de pessoas brancas representam 73,9%, mas em óbitos elas caem, sendo de 64,5%. O que significa que, proporcionalmente, a doença é mais letal em negros e negras, revela o relatório do Ministério da Saúde. “Esses números mostram que é muito importante saber quantos testes foram feitos nas periferias e favelas e qual é o percentual de pessoas negras e brancas testadas para avaliar se o tratamento está adequado”, aponta Beatriz.
CAUSAS ECONÔMICAS
Atualmente, as principais causas da falta de diagnósticos em massa são econômicas e logísticas: a falta de centros produtores causa escassez no mercado e inflação dos preços e a falta de laboratórios habilitados a analisar as amostras provoca atrasos na divulgação dos resultados. Até poucas semanas eram apenas três os laboratórios habilitados para testes: Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo e Instituto Evandro Chagas, no Pará. Agora todos da rede Lacens (26 Estados + Distrito Federal) integram a lista, que também passou a contar com laboratórios de instituições públicas, como da Universidade Federal de Minas Gerais e do Hospital das Clínicas da Universidade Estadual de Campinas.
“Esta parece ser uma situação sobre a qual o governo pouco pode fazer, mas não é verdade: como o exemplo dos Estados Unidos comprova, é possível redirecionar a produção. Além disso, é possível agilizar convênios com universidades e laboratórios de instituições públicas e privadas. É por isso que a sociedade precisa cobrar respostas mais efetivas”, sintetiza Beatriz.
SOBRE A PURPOSE
A Purpose constrói e apoia movimentos que lutam por um mundo mais justo e habitável para todos. Mobilização pública e storytelling são nossas ferramentas para apoiar organizações, ativistas, empresas e entidades filantrópicas envolvidas nessa luta. Em nossos laboratórios criamos campanhas e iniciativas capazes de transformar políticas e mudar narrativas em momentos-chave.