Quando for escrita – com o devido e necessário distanciamento crítico – a História do Jornalismo brasileiro do século 20, longe das militâncias político-partidárias que tanto identificam a área, capítulos especiais caberão a Ayrton Luiz Baptista.
Ayrton, hoje aos 80 anos, em Curitiba, mantém-se em atividade, colaborando com jornais, escrevendo artigos de opinião, e entregando aos meios de comunicação do Estado um boletim diário, denominado AB Notícias.
2 – “SILÊNCIO OBSEQUIOSO”
Eu não tenho nenhuma dificuldade em dizer que Ayrton, para boa parte do mundo sindical jornalístico, especialmente do Paraná, é quase um desconhecido. Ou seria melhor dizer que sobre ele pesa um silêncio deliberado? Essa é a melhor definição, acho.
Seu nome frequenta um claro-escuro, por nunca ter-se identificado com as orientações de uma certa esquerda (ou arremedo) do jornalismo.
Eu sempre o vi como um social-democrata. Um liberal, talvez.
Esse silêncio “obsequioso” que paira sobre Ayrton é ainda mais notável quando alguém lembra que ele presidiu a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), quando conseguiu um feito de que todos os jornalistas brasileiros se beneficiam até hoje: a regulamentação da profissão, proposta pelo presidente general Geisel.
3 – FIM DO DECRETO-LEI 972
Isso mesmo, com Ayrton a FENAJ conseguiu em 1979 colocar abaixo o decreto-lei 972, assinado pela Junta Militar que governava o país. Em seu lugar, Ayrton conseguiu que Geisel propusesse nova regulamentação da profissão, depois aprovada pelo Congresso. E por ele sancionada.
Os avanços com a nova regulamentação foram enormes e até hoje – curiosamente – são bandeiras de sindicalistas à esquerda, que defendem, assim como Ayrton defendeu junto a Geisel, medidas como o título universitário como condição para o exercício profissional.
O curioso foi o encontro do então presidente da FENAJ com o presidente-general, o homem que garantiu a redemocratização do país, de forma “lenta e gradual”.
4 – APOIO DE NEY E EURO
O mandatário era refratário ao diálogo com comunicadores. Por isso, Ayrton recorreu ao apoio de dois amigos – Ney Braga e Euro Brandão, então secretário geral do MEC. Eles marcaram o encontro do jornalista com Geisel:
– Pedi a Geisel o que tinha de ser pedido: liberdade de imprensa e a regulamentação da profissão de jornalista, explica Ayrton.
O encontro deveria ser rápido, ‘vapt-vupt”. Acabou durando meia hora, com Geisel oferecendo suco de laranja, cafezinho e uma agradável rememoração de Curitiba, onde ele servira como comandante da Quinta Região Militar.
Esses fatos são parte da história de Ayrton Luiz Baptista, um dos personagens do volume 7 de meu livro Vozes do Paraná, que lançarei este ano, possivelmente em agosto.
O livro segue fiel aos seus propósitos: mostrar a história do Paraná em tempo real.