(espaço de Antonio Carlos da Costa Coelho)
Era um tipo espalhafatoso. Ria alto, usava camisas coloridas abertas no peito, mangas arregaçadas, corrente grossa de ouro e, é claro, óculos escuros na testa – atestados de um cafajeste profissional. Era o retrato da malandragem consagrada pelo cinema nacional dos anos 60 – 70. Os admiradores o cercavam na porta do café e não eram poucos os que gostavam das suas bazofias. Contava como lidava com ladrões, prostitutas e cafetões – com quem resolvia as questões no tapa e no achaque. Era o retrato do que não prestava na polícia.
Dos ladrões tomava ou encomendava as armas. Fazia favores aos amigos, o que lhe conferia a imagem de um homem com poder e, igualmente, generoso.
Era reconhecido pelos amigos e admiradores por “moreno sentimental”.
Prender, ameaçar, achacar eram itens de um vasto repertório de serviços que o malandro oferecia, se necessário, aos amigos do café da XV.
Vendia armas, mas só para conhecidos. Atendia a freguesia no fundo dos bares, onde não chamasse muito a atenção. Depois de muita encenação e valorização da mercadoria abria a pasta, mostrava uma pistola automática ou um 38. Quando o interessado ameaçava tocá-lo, impedia-o e dizia: – opa, opa… vá lavar as mãos! Não pense que vai pegar nesta joia com as essas mãos sujas.
O malandro concluía o negócio. Dinheiro no bolso. O comprador escondia a arma sob o paletó enquanto o moreno recomendava: “não andar por ai dando moleza pra malaco”. Ainda, com o dedo em riste, alertava: “cuidado rapaz, não vá fazer bobagem!”
Mas, o comprador não ficava muito tempo com a arma. Logo, ao virar a esquina, era abordado por um policial – “aí, cidadão, o que está levando debaixo do paletó? Deixa ver… ah! cadê o porte? Não tem… vai me acompanhar até a delegacia…”
O cidadão perdia a arma. Trocava a ida à delegacia por uns mil cruzeiros.
A “joia” voltaria a ser vendida no fundo de algum bar para outro trouxa.