terça-feira, 2 setembro, 2025
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CURITIBA CONHECE BEM EVARISTO, TIDO COMO ‘GURU’ DE BOLSONARO

Evaristo Eduardo de Miranda não é ‘guru’, é cientista

Nesta segunda-feira, 26, conversei por telefone, rapidamente, com o Evaristo Eduardo de Miranda, a quem, em matéria equilibrada, assinada por Fernando Trisotto, a Gazeta do Povo apresentou em sua edição de 23-3, como “guru” ambiental do governo de Jair Bolsonaro”.

Na primeira declaração que me fez a propósito, Evaristo foi taxativo:

“Não sou guru de Bolsonaro”.

Também nos últimos dias, Evaristo foi enfocado pelo Portal BBC Brasil, com análise sobre sua influência no Governo Bolsonaro, em matéria assinada por uma jornalista.

Esse texto (que o leitor acessará no link anexo) é, na minha opinião, omisso com relação à real importância do diretor da Embrapa Territorial e seu papel exercido no país na área da agricultura e ecologia nos últimos 23 anos.

No Governo Dilma (e ele sempre foi antiPT), ao lado de Katia Abreu e de Aldo Rebello (ele mesmo, o comunista) foi, literalmente, a alma do Novo Código Florestal do Brasil…

Mas o texto da jornalista da BBC (ela tem todo o direito de ter opinião divergente da minha) acentua apenas críticas a Evaristo, partidas de algumas fontes – muitas delas acadêmicas -, que “não apresentam números”, reclama Miranda, para tanto até citando uma frase de Sallinger: – “Mostrem-me os números”.

COM OS NÚMEROS

Evaristo sabidamente apoia-se em realidades numéricas para defender suas teses e as expõe com precisão. Como o faz no livro “Tons de Verde”, que editou em português e inglês em 2018.

Na verdade, a obra dele é tão vasta que tem de ser pesquisada também em italiano, inglês e francês.

Nem os ferrenhos opositores de Miranda contestam o que ele afirma: o Brasil tem 64% de cobertura florestal preservada.

NA WIKIPÉDIA

Quem se der ao trabalho de simplesmente consultar a Wikipédia, por exemplo, pode se surpreender com a fertilidade intelectual desse técnico, Mestre e Doutor em Ecologia pela reputada Universidade de Montepellier, França, onde também fez graduação em Agronomia, e que foi viver na África, no Níger, para escrever sua tese doutoral em Ecologia.

MÃE ÁFRICA

Dessa experiência africana resultou uma das obras mais fascinantes sobre aquela terra, a herança cultural de povos ancestrais de África, a defesa de temas ambientais que sempre sustentaram a vida de Miranda.

O livro resultante da vivência em Níger está na Amazon, “A Flor da Pele”, obra que eu não tenho dúvidas em colocar entre os melhores textos na linha do antropológico-social que já li em minha longa vida.

VELHO CONHECIDO

Boa parte de uma elite cultural curitibana conhece há anos, desde 1998, o Evaristo Miranda. Naquele ano ele se tornou sócio e depois diretor do Instituto Ciência e Fé de Curitiba (“Fidelis et Constans”), que eu presido e dirijo com Cícero Urban, Euclides Scalco, Eleidi Freire Maia…

Aqui fez diversas conferências magistrais, em universidades, como PUCPR e UFPR, algumas revelando além do doutor em Ecologia, o homem prático e acadêmico que, literalmente, domina muitos saberes, como a Filosofia, a história de Israel, textos bíblicos, História Universal, Química, Física. Um dos seus livros mais interessantes nesse campo foi editado pela Loyola, e desmonta a versão circulante sobre o povo Fariseu, mostrando-o, ao contrário, como incompreendidos nas Escrituras, pois seria generoso e sobretudo sábio.

NÃO QUIS MINISTÉRIO

Para os que leem com frequência este meu espaço – e também o Jornal Universidade (na web e impresso), Evaristo nunca escondeu que era o preferido de Bolsonaro para ocupar o Ministério do Meio Ambiente. Vi vídeos com claras demonstrações de apreço de Bolsonaro a ele.

Não quis ser ministro do Meio Ambiente, havia problemas de saúde de um familiar colocado em prioridade.

LONGE DE ABSURDOS

Se Bolsonaro comete certos absurdos em termos de Meio Ambiente – com repercussões internacionais -, nada disso tem o dedo de Evaristo Eduardo de Miranda, um cientista muito preocupado em examinar temas preciosos e raros, como, por exemplo, aquele contido no seu livro “Quando o Amazonas Corria para o Pacífico”.

PIONEIRISMO

Sou amigo de Evaristo e de sua esposa, Liana John, pioneira jornalista a dedicar-se a Meio Ambiente no país, premiada mundo afora. No final do ano, o encontrei para almoço em Curitiba. Viera mais uma vez, viera para fazer conferência para experts no mundo da agricultura e Ecologia.

ALDO REBELLO

Por conhecer a grandeza desse cidadão muito crítico – por vezes até exageradamente – a temas top de linha do país, recomendo que se ouçam antigos parceiros dele (como o marxista Aldo Rebello) que, com a “supervisão” de Evaristo, tiveram papel fundamental na montagem do Código Florestal vigente, nascido e criado no Governo Dilma Roussef.

Evaristo nunca foi petista, mas autoridade acima de barreiras partidárias.

SETE PECADOS

Tenho certeza que Evaristo, com seu tirocínio e agilidade mental foi algodão entre cristais naquela jornada.

Salve o Evaristo, que se nega a aceitar o cognome de “guru de Bolsonaro”. Até porque é um sábio, um cientista que não foge a realidades facilmente comprováveis, como a bateria de números que sustentam seus argumentos sólidos.

Acredito que Evaristo é um pouco vítima de invidia.

Um dos sete pecados capitais

-o-o-o-

Segue a matéria publicada na Gazeta do Povo:

“QUEM É O GURU AMBIENTAL DO GOVERNO DE JAIR BOLSONARO”

Fernando Trisotto, de Brasília, em 23-8-2019, Gazeta do Povo

Se você já ouviu um ou mais integrantes do governo de Jair Bolsonaro (PSL) falarem que o Brasil é líder em preservação ambiental no mundo e não sabia de onde saiu essa informação, pode apostar que tem relação com o trabalho do agrônomo Evaristo Eduardo de Miranda. Já há quem o considere um tipo de guru ambiental de Bolsonaro.

Pesquisador da Embrapa desde os anos de 1980, Miranda defende que o Brasil destina 66,3% de sua área para a proteção e preservação de vegetação, em uma conta que inclui unidades de conservação, terras indígenas e de quilombolas, além das áreas de preservação dentro de imóveis rurais.

A tese é contestada por cientistas no Brasil e mundo afora, que alegam um tipo de contabilidade criativa para essa conta. Contudo, os estudos de Miranda ganharam espaço dentro do governo. O próprio presidente Bolsonaro já usou essa argumentação ao falar da questão ambiental logo no início do mandato, durante o Fórum Econômico Mundial. E, de lá para cá, assuntos relacionados ao meio ambiente são dos principais fatores geradores de polêmica dessa gestão.

Desmate legal, ou ilegal

GURU AMBIENTAL DO GOVERNO

Miranda é chefe da Embrapa Territorial, empresa na qual está há quase 40 anos. Mas ele não é “apenas um guru ambiental”: também é estudioso de hebraico e colabora ativamente com o Instituto Ciência e Fé. Além da formação em agronomia, com doutorado em ecologia e publicação de livros e artigos sobre o tema, já se aventurou em outras áreas. Publicou o livro “Bíblia: história, curiosidades de contradições”, em que responde a questionamentos sobre o texto. Essa área o interessa: ele também já publicou o livro “Guia de Curiosidades Católicas – Causos, Costumes, Festanças e Símbolos Escondidos no seu Calendário”, sobre o qual falou em entrevista a Jô Soares.

Chamado para atuar na equipe de transição de Bolsonaro, que cogitou unir os ministérios do Meio Ambiente e Agricultura, ele declinou do convite para assumir o comando da pasta. Mas sedimentou um trabalho que está repercutindo entre governistas de primeiro escalão e a família do presidente. “Meio Ambiente será um assunto de Estado, e não de governo”, disse à revista Globo Rural, à época da transição.

MEIO AMBIENTE NA MIRA

É fato que o atual governo tem outra maneira de tratar o assunto, aproximando ainda mais o meio ambiente da questão agrícola. E é aí que Miranda entra: esse vem sendo seu discurso há anos e que acabou sintetizado no livro “Tons de Verde”, lançado no ano passado e que discute a sustentabilidade da agricultura no Brasil. O assunto, aliás, é volta e meia comentado pelo agrônomo, que apresentou muitos desses dados no Fórum de Agricultura da América do Sul, realizado em agosto de 2018, Curitiba.

Na apresentação, que teve piadinha com a cor vermelha escolhida para mostrar áreas de preservação em uma alusão ao PT, Miranda já usava o bordão de que era melhor “já ir se acostumando”, muito usado por apoiadores de Bolsonaro no período de campanha. E explanou seu ponto de vista sobre o uso das terras brasileiras para agricultura. “O Brasil, que era grande, ficou pequeno porque tem muita terra atribuída no Brasil”, sintetizou no começo da sua fala.

O vídeo viralizou, e dá para ver que argumentos usados pelo atual governo já estavam lá. Miranda começa apresentando mapas que mostram áreas que são unidades de conservação (1.871 áreas, na época), terras indígenas e quilombolas. Esse conjunto do território faz parte das áreas protegidas dos países, de acordo com a ONU.

De acordo com a apresentação de Miranda, 30% da área brasileira se enquadra nessa categoria. Ele vai além: diz que só dez países possuem mais de dois milhões de quilômetros e a média de área protegida é de 10%. “Eu não sei se é muito ou se é pouco esse 30%, mas é o campeão.

Apanhar dizendo que o Brasil não protege as suas florestas, a sua vegetação nativa, é um absurdo”, argumentou.

 

“O Brasil, que era grande, ficou pequeno porque tem muita terra atribuída no Brasil”,

Evaristo Miranda, chefe da Embrapa Territorial, durante palestra

 

Para chegar aos 66,3% de áreas que não podem ser usadas para a agricultura, Miranda ainda somou os assentamentos do Incra, terras devolutas, imóveis não cadastrados e áreas militares, perfazendo uma área equivalente a 48 países europeus.

“É o mapa que a gente tem que mostrar pros europeus, porque eles planejam o que não executam e depois avaliam o que não fizeram. É o que fazem com o Brasil o tempo todo”, disse. E também cutucou a Noruega, tão em voga por causa do Fundo Amazônia e retenção de repasses de verbas para o governo brasileiro.

Para Miranda, há um movimento internacional claro para forçar a cultura da preservação ambiental no Brasil em detrimento do avanço da agricultura. Citou como exemplo o estudo americano “Farms here, forests there” [Fazendas aqui, florestas lá, em tradução livre], que mencionava um mercado adicional de alimentos no mundo, de US$ 40 bilhões nos próximos 20 a 30 anos.

Ele só não comentou que o estudo circula entre parlamentares brasileiros pelo menos desde 2010, quando já se discutiam alterações no Código Florestal. Naquela época, a projeção apontava que os agricultores americanos poderiam ganhar até US$ 270 bilhões em 2030 com a redução do desmatamento nos países tropicais.

DERRUBANDO MITOS

O discurso de Miranda foi atualizado com o passar dos anos, mas não é propriamente novo: em entrevistas antigas, ele já defendia vários desses pontos. Em 2011, para a TV Cultura, declarou que a biodiversidade brasileira é uma das grandes maravilhas do mundo. E falou sobre a região amazônica. Para ele, o país precisava aprender a preservar a biodiversidade em um espaço rural heterogêneo, promovendo um melhor uso das tecnologias, agredindo menos o meio ambiente, reduzindo queimadas e o uso de agrotóxicos.

“Você tem 25 milhões vivendo na Amazônia. Essas pessoas querem comer, tem necessidades. Então é fundamental para preservar a floresta amazônica que a gente intensifique a agricultura, que a gente cresça verticalmente, que a gente produza mais no mesmo lugar sem ter de ampliar a área”, afirmou.

E ele já falava isso há mais tempo. Uma entrevista de 2006, ao jornal O Estado de S.Paulo, mencionava a necessidade de derrubar mitos, como a Amazônia ser o pulmão verde do mundo e que se a região é desmatada, depois se torna um deserto. “Essa ideia tem a ver com a falta de tecnologia, com a agricultura de índio, de quem não cuida da terra”, afirmou. Logo depois, defendeu o modelo agrícola usado em Mato Grosso, que considera “extremamente ecológico”, por ser um sistema que explora a tecnologia e protege o solo.

De lá para cá, fica mesmo a defesa ao produtor agrícola. “Quanto à preservação da vegetação nativa, qual agricultura no mundo dedica tanta área de seu território à preservação ou exige uma contribuição, nesse sentido, da magnitude da exigida dos agricultores brasileiros? Não há no Brasil nenhuma categoria profissional que preserve tanto o meio ambiente como os agricultores”, anotou em um artigo publicado em 2017.

Em entrevista ao jornal Universidade, do Instituto Ciência e Fé, publicada em maio do ano passado, ele reafirmou a admiração pelos agricultores. “Eles imobilizam um enorme patrimônio fundiário pessoal nisso, algo da ordem de R$ 3 trilhões. E ainda têm custos para evitar incêndios, roubo de madeira, invasões. Todos esses custos e gastos precisam ser estimados e conhecidos pelo cidadão urbano”.

Para ele, o “cidadão urbano” tem muito o que aprender com os produtores rurais em termos de preservação, porque não vê esforço equivalente nas cidades em termos de consumo consciente, saneamento básico e poluição.

Coincidência ou não, a atual gestão do Ministério do Meio Ambiente diz que sua prioridade é tratar do meio ambiente urbano. E já lançou mais de um programa nessa direção.

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