Um contato telefônico que o vice-governador Flávio Arns programou para o fim da tarde sexta-feira, 5, poderia decidir o futuro dos 10 angolanos cegos sob ameaça de retornarem, contra a vontade, a Angola, de onde foram transplantados para Curitiba, há 14 anos, quando, quando eles eram crianças.
O governo de Angola quer que os jovens, a maioria deles universitária, retorne à África, da qual os moços e moças estão desenraizados. Eles dependem de Angola para viver em Curitiba.
2 – CORTE DE AUXÍLIO
Angola anunciou que vai cortar os auxílios mensais de R$ 1 mil que dá a cada membro do grupo. Os jovens hoje são parte da paisagem humana da cidade, onde são conhecidos como os Cantores de Angola, desde que aqui chegaram e foram abrigados no Instituto Paranaense de Cegos.
A solução para o caso, de ampla repercussão no Estado, pode ter surgido na sexta-feira, quando o vice-governador recebeu em gabinete a professora Leomar Marchesini, do grupo Uninter/Facinter, encarregada dos programas de inclusão de alunos com deficiência na instituição universitária.
Na verdade, Leomar – psicóloga e professora – tem sido verdadeira “mãe” para os angolanos cegos, levando-os “para baixo e para cima”, em busca de socorro que evite a retirada do grupo do Brasil.
3 – SOLUÇÃO CONSTITUCIONAL
Na reunião com Arns no Palácio Iguaçu participaram representantes da Defensoria da União, Ministério Público Estadual e Secretaria de Estado da Justiça. A luz para a solução desse problema humanitário – e que envolve a embaixada Angolana (tida como inabordável e inflexível diante da decisão de “recolher” os seus patrícios) – foi dada por David Ricardo Augusto Wood, do MPE: por serem originários de país lusófono, e aqui morando há mais de um ano, os jovens têm o direito de pedir naturalização. É o que prevê – lembrou – o artigo 12 da Constituição.
Com a naturalização se resolveria o problema.
Quatro primeiros angolanos já foram ouvidos pela Defensoria da União no Paraná, com vistas à naturalização.
O vice-governador, por sua vez, iria pedir à Embaixada de Angola que garantisse até abril a verba de ajuda aos moços, hoje impedidos de trabalhar por terem apenas visto de estudantes.
Abril seria o mês que, estima Arns, o problema estaria equacionado e os jovens encaminhados para trabalho. O diretor presidente do Grupo Uninter, Wilson Picler, anunciou que concederá bolsa de estudos aos jovens cegos, como parte de seu apoio aos programas de inclusão de alunos com deficiência.