Fernando Xavier Ferreira foi sempre avis rara na vida pública, um diferenciado positivamente.

Também o era quando ocupou posições relevantes no período militar, tempos em que, é notório, o cuidado com o erário e a coisa pública em geral era exemplar.
Habitualmente visto como paradigmático por muitos de seus rigorosos pares, e até “um linha dura”, expressão que resume a qualidade especial que emprestou nos cuidados com a administração dos bens públicos, ele é avis rara.
EM ITAIPU
Para mim, um marco muito relevante desse administrador foi sua passagem pela Binacional Itaipu, como diretor geral, quando conseguiu redução de 51,6% das despesas da empresa numa espantosa cifra: US$ 164,9 milhões, entre o orçamento de 1990, e o que aprovou para 1992. E olhe que só passou por lá um ano e meio, substituindo Ney Braga na Binacional.
Para conseguir tais feitos, que assustaram a interessados no inchaço da máquina da empresa de energia elétrica, deve ter encontrado enormes resistências. Esse é um dado que ele não aborda. Aliás, a discrição é outra característica de Xavier Ferreira, parte de um restrito rol de paranaenses que tiveram também forte expressão diretiva em grandes corporações nacionais/internacionais nos últimos anos. No caso dele, como CEO, na iniciativa privada.
PRIVATIZAÇÕES
Foi o que aconteceu, por exemplo, ao presidir por vários anos a Telefônica, multinacional de origem espanhola em São Paulo. Foram tempos em que Fernando Xavier Ferreira, por dever de ofício, ganhava bons espaços da mídia nacional, já então referência na área em que já havia se notabilizado, com passagens de forte repercussão no Ministério das Comunicações, Telebrás e, antes, na Telepar. E muito especialmente porque fora peça chave no processo de privatização das telecomunicações, atuando ao lado do ministro Sergio Motta, e, depois, como ministro interino das Comunicações no mesmo Governo Fernando Henrique Cardoso.
Será que estaria eu exagerando se dissesse que, no fundo de tudo, Xavier Ferreira tem de ser reconhecido como um dos principais criadores das linhas básicas para o amplo processo de privatização das telecomunicações? Acho que não, e disso me ocupo mais adiante, embora brevemente, ressaltando alguns passos da privatização, contribuição para a história.
BELMIRO E SCALCO
Belmiro Valverde Jobim Castor (in memoriam), paradigmático intelectual paranaense que construiu obra sólida no Estado, como o processo de modernização da máquina pública durante o governo Canet Junior, foi definitivo, certa vez, ao falar-me sobre como via Xavier Ferreira:
– Fernando sempre esteve algumas escalas adiante de seu tempo no Brasil, um pensador dedicado à modernização administrativa, alguém que sabe prever para prover. Tem história, muito mais que biografia, e está no primeiríssimo time brasileiro dos que conhecem as fórmulas para fazer o “Gigante” despertar. Veja, por exemplo, como se mostrou um craque no processo de privatização das telecomunicações do país. E tudo trabalhado sem “show off”.
Belmiro até ampliou suas observações sobre Xavier Ferreira, com certo tom acadêmico, sobre a especialidade em que (ele, Belmiro) se doutorara na USC, dizendo: “Fernando é um primoroso seguidor de princípios de Max Weber, Fayola, Taylor e outros luminares da Ciência da Administração, com a devida adequação aos tempos de hoje”.
Não sei se Castor chegou a ler “Sergio Motta – O Trator em Ação”, de José Prata, Nirlando Beirão e Teiji Tomioka. Sei que se trata de livro essencial para se entender o discutido processo de privatização da telefonia brasileira. O longo levantamento e a análise feitos pelo trio acabam desqualificando aleivosias transformadas também em livros, só que panfletários, contestando os méritos das privatizações do Governo FHC.
Euclides Scalco, um enorme símbolo de homem público padrão, ex-ministro de FHC, ex-diretor geral da Binacional Itaipu, não deixa por menos: “Fernando Xavier Ferreira, que apresentei ao Eduardo Jorge, secretário geral do Governo Fernando Henrique, vale por uma universidade voltada exclusivamente a ensinar administração pública. Nele há um profundo casamento entre o conhecimento técnico e a sabedoria para governar, tudo dentro de princípios éticos essenciais ao correto homem público.”
