
A Praça 29 de Março, Mercês, está assumindo grande parte do papel da Boca Maldita, cuja importância diminuiu, embora essa ainda reflita algum humor e parte da temperatura da cidade.
Assim, todos os domingos de manhã, uma leva de notáveis curitibanos começou a marcar aquele território da praça, como que em substituição à histórica Boca Maldita. Na praça, a grande feira local facilitar os encontros.
E o espaço passou a aglutinar dominicalmente gente como Orlando Pessuti, Luiz Carlos Borges da Silveira, Ratinho (o pai), jornalistas, políticos e empresários que para lá se mudaram. Tudo testemunhado por um vaivém de curitibanos em torno da grande feira.
O exato ponto de encontro fica no lado da Rua Desembargador Motta, uma das referências daquele espaço.
E já a partir deste mês, esses “patrícios” resolveram institucionalizar e dar identidade oficial e legal ao espírito associativista do grupo no local. Para tanto, registraram a associação civil “Boca Bendita de Curitiba”, que passou a ser constituída assim:
Presidente, Sinval Dias dos Santos (chefe do IBGE no Paraná), tendo como primeiro vice-presidente Luiz Eduardo Dib, e primeiro secretário Hernani Bergossi.
Prevê-se, é claro, um forte poder de atração que a “Boca Bendita” irá exercer como caixa de ressonância da cidade.
Prevê-se, igualmente, uma “corrida” ao novo ponto de encontro, de puro lazer e conciliábulos de gente de grande estatura e peso comunitários.
RECORDANDO
Boa parte dos curitibanos que podem ser enquadrados na categoria de “patrícios”, com idade acima dos 60, frequentaram e/ou foram feitos ‘Cavalheiros da Boca Maldita’. A solenidade de unção dos Cavalheiros ocorre sempre em 13 de dezembro, “memorial” da assinatura do Ato Institucional A-5.

A Boca, que foi o melhor palco e plateia de Curitiba partir do começo dos 1960 – tendo como capitães gente como Francisco Cunha Pereira Filho e René Dotti -, por exemplo, manteve-se como forte termômetro da alma da cidade até os anos 2000. Depois disso, aquele território físico compreendido entre Praça Osório e Travessa Oliveira Bello, diminui em repercussão. Isto não quer dizer que não permaneça simbólica de um tempo e de uma realidade etnográfica tipicamente curitibana.
CIDADE GIGANTE
Para a hoje menor repercussão da Boca Maldita contou muito o agigantamento de Curitiba e a morte ou aposentadoria de alguns de seus líderes.
Assim, a morte de Anfrísio Siqueira, o presidente perpétuo e animador da Boca, foi a primeira grande perda, assim como a de Francisco da Cunha Pereira, o “Dr.Francisco”, e a de Cândido Gomes Chagas, o dono da revista Paraná em Páginas, publicação que tanto mexeu com a cidade, em outros anos. E, sem dúvidas, do guru Aníbal Khury, emblema de um tempo irrepetível de Curitiba.
RENÉ DOTTI E IGOR
Dotti, graças a Deus, está muito vivo, mas limitou suas andanças e não mais é visto na Boca, assim como sumiram outros notáveis que a faziam “palco e plateia”.
O jurista Dotti era o orador ‘perpétuo’ da solenidade de diplomação dos novos cavalheiros.
É verdade que o filho de Anfrísio, Igor, esforça-se pra manter a chama da velha “Boca Maldita”. No último 13 de dezembro, repetiu a festa anual de unção de novos cavalheiros.
VIVOS E MORTOS
Entre vivos e mortos, a Boca abrigou em seu território a presença de gente do calibre folclórico de “Gilda”, a travesti, “Esmaga”, Maria do Cavaquinho. E singulares nomes da vida pública, como Ney Braga, Ike Weber, Otavio Ferreira do Amaral, Fabio Campana, Segismundo Morgenstern, Adherbal Fortes de Sá Junior, Paulinho Vítola, o senador José Eduardo de Andrade Vieira, Roberto Requião, Júlio Lerner, Fernando e Roberto Velloso, Jaime Lerner, Cassio Taniguchi, Jair Mendes, João Elísio Ferraz de Campos, Gláucio Geara, Marcos Hauer, Marcos Stamm, José Maria Correa de Araújo, Antonio Carlos Carneiro Neto, Nêgo Pessoa, Odone Fortes Martins, Eloi Zanetti, Sérgio S.Reis, Mário De Mari, Luiz Carlos Martins, Erondy Silvério, Flávio Arns, Oriovisto Guimarães, Adolpho de Oliveira Franco Filho, Airton Ravaglio Cordeiro, Luiz Alberto Martins de Oliveira, Rubens Teig, Salomão Soifer, Saul Raiz, Luiz Julio Zaruch, Julio Cezar Rodrigues, Cândido Manoel Martins de Oliveira, Dino e Décio Bronze de Almeida, Antonio Luiz de Feitas, Cláudio Loureiro, José Dionísio Rodrigues, Rafael de Lala Sobrinho, Vinicius Coelho, Almir Feijó , João Osório Brzezinski, Juarez Machado … E milhares de outros Junior, Luciano Ducci, Gustavo e Maurício Fruet, Walter Schmidt, Ari Fontoura, Eduardo Rocha Virmond, Egas Moniz de Aragão, Ives Fontoura, Oscar Alves, Jamil Snege, Glauco Flores de Sá Brito, Cecílio Rêgo Almeida…
