Por Antonio Carlos da Costa Coelho
Padre Libanio viveu 81 anos. Deixou seus amigos numa manhã quente, em Curitiba, cidade que visitava frequentemente para pregar retiros e conviver com seus amigos e amigas do Colégio Sion. Seu coração, embora imenso, não aguentou. Partiu ao lado do grupo de amigos que ajudou a formar espiritualmente desde os anos 70, quando ainda não se falava em Teologia da Libertação.
Padre João Batista Libanio vinha a Curitiba a convite de sua amiga Maria Cristina, irmã da Congregação de Sion. Era no Colégio que falava aos professores e amigos. Era onde rezava as missas – missas inesquecíveis, homilias impecáveis – feitas com palavras do coração. Aliás, Libanio falava com o coração. Seu conhecimento imenso já tinha abandonado as teorias e as formulações teológicas para se tornarem palavras de vida nas falas e causos do bom padre mineiro. E, em palavras cheias de amor ao Todo Poderoso, ensinava e orientava seus alunos do Instituto Superior da Companhia de Jesus em Belo Horizonte preparando mestre e doutores. E, com entusiasmo, falava às crianças nas celebrações de primeira eucaristia, aos professores num 15 de outubro ou à gente simples da Igreja Nossa Senhora de Lourdes em Vespasiano, perto de Belo Horizonte, coisa que fazia, religiosamente, todos os domingos.
Dirigiu o Colégio Pio Brasiliano em Roma nos anos do Concílio Vaticano II. E, no Concílio, ainda jovem, colaborou como assessor teológico. Dali fez-se referência no mundo da teologia. Escreveu muito. Tinha uma facilidade absurda. Às vezes, era um poeta, noutras um teólogo quase germânico. Duro e árido, mas, sempre genial. Deixou incontáveis artigos para revistas e jornais. Livros foram 36 e, com outros autores, quase uma centena.
Nos últimos anos, com sabedoria, deixou de ensinar. Guardou-se para ao estudo, à oração e os retiros para grupos de amigos. As suas aulas entregou aos professores mais jovens. Libanio dizia que um professor tem que saber a hora de parar para não ganhar fama de gaga.
Padre João Batista Libanio conquistava a todos pela sua simplicidade e simpatia. Não havia arrogância e não havia palavras manchadas de ódio e segregação de alguns conhecidos teólogos da libertação, nem por isso suas palavras perdiam a força dos grandes profetas bíblicos.
Libanio se foi. Partiu. Deixou exemplos e, principalmente, esperança. Conquistou pessoas, converteu-as a Deus, e, sem dúvida nenhuma, conquistou a amizade de Deus.