
Marcus Vinicius Gomes (*)
Não vou lá muito com a fuça de Luiz Felipe Pondé. Ele tenta ser polêmico, mas é de uma chatice atroz. Contudo, vendo cenas da parada gay de Copacabana, no último fim de semana, que tanto causou polêmica porque o prefeito Marcelo Crivella, bispo da Universal, cortou as verbas e rasgou o verbo, reconheço que Pondé acertou ao criticar a onda gay dos anos 60 que deu nisso que está aí. Diz ele que ao reclamar seus direitos (ok, nada a reparar) as minorias, especialmente os gays, porque de melhor perfil econômico, criaram uma ‘agenda do bem’ e impingiram-na a todos.
Se alguém ousar criticá-los será imediatamente tachado de preconceituoso, condenado ao ostracismo, censurado e perseguido tal como a bruxa de Salém.
50 ANOS DEPOIS
Não há aqui nenhum fiapo de crítica ao homossexual, mas faço um questionamento: será que, passados quase cinco décadas da revolução sexual, ainda há necessidade de uma Parada Gay? Salvo as razões econômicas, porque de fato isso gera muito dinheiro (e até patrocínio de governos locais), creio que não.
MULHER DO CAFEZINHO
Homossexuais amigos meus recusam a estampa. Não por serem homossexuais, mas porque isso lhes importa pouco. Costumam argumentar que suas preferências entre quatro paredes não valem sequer uma nota de rodapé no jornal. Quanto mais um outdoor na avenida principal. Se sofrem ou sofreram preconceito ou humilhação? Não mais do que a mulher do cafezinho submetida aos caprichos da secretária do chefe.
‘XENIOFOBIA’
Um jornalista de larga experiência caiu na besteira, em nossos tempos sombrios, de fazer trocadilho com uma lésbica de nome Xênia. Disse que sofria de ‘xeniofobia’, mas não pelo gênero que ela costumava embandeirar e sim por suas ideias políticas. Foi devidamente espinafrado e exposto em um auto-de-fé na internet. Sim as redes sociais são a “explosão da santimônia”. Não lhe causou surpresa, portanto, a candidatura da algoz a um cargo político tempos depois.
CHATO DA TARDE
O trocadilho, aliás, não era nenhuma novidade. Dizia respeito a uma apresentadora da antiga TV Bandeirantes chamada Xênia Bier. O termo “xeniofobia” era uma referência à chatice do programa. Sorte, era vespertino.
VOZ AOS IMBECIS
O passar dos anos só confirmou minhas suspeitas. Qualquer um que se atreva a sair da linha, e não estou me referindo a crimes de ódio, puníveis com toda razão, mas a piadas do tipo que se faz com judeus, portugueses, negros ou corintianos, é passível de punição exemplar. Já disse que não há casos de intolerância flagrante no Brasil, salvo na internet, que deu “voz aos imbecis” (copyright Umberto Eco). Nunca se aprovou legislação, por exemplo, tratando de segregação racial como ocorreu nos Estados Unidos, E aqui como lá, o escravismo foi figura assombrosa.
ROBERTA CLOSE
Ali Kamel, hoje diretor de jornalismo da Rede Globo, escreveu livro que recomendo: “Não Somos Racistas”. Não somos mesmo. Tampouco preconceituosos de pedra. Roberta Close, transgênero numa época em que o termo nem existia, foi considerara a mulher mais bonita do Brasil e virou capa de Playboy (com o penduricalho disponível, mas omitido para fotógrafo).
A MOÇA DO TEMPO
Este é o único país no mundo em que a miscigenação deu certo. Desde que um lusitano pisou as areias e enrabichou-se com uma índia (ou índio, sei lá). Deveria ser motivo de orgulho. Não é. Não faz muito tempo, a moça do tempo do Jornal Nacional, Maria Júlia Coutinho, anunciou-se vítima de racismo nas redes sociais e o caso imediatamente ganhou repercussão, inclusive com um depoimento dela mesma, ao vivo.
DUVIDO
Maria Júlia, que mora e trabalha em São Paulo, afirmou estar ‘acostumada’ com o preconceito sofrido durante longo tempo, desde sua mais tenra infância. Permita-me duvidar.
FREUD NÃO PRECISA EXPLICAR
Salvo raras exceções, o que inclui as instituições de ensino privadas, as escolas públicas paulistanas sempre foram de um colorido étnico exemplar. Se havia bullying? Claro que havia. Não é preciso apelar a Freud para constatar que crianças são, por natureza, cruéis. Havia o quatro-olhos, o dentuço, o sujo, o ranho, o baleia, o neguinho, o pirralho, o bafo, o vesgo, etc.
VENDETA
Por essas e muitas outras é que acho essa onda de vingança presente nas redes uma hipérbole social sem propósito. Espero que passe em breve.
(*) MARCUS VINÍCIUS GOMES é jornalista profissional e coautor de “Encontros do Araguaia: paranaenses que fizeram o século 20”, a ser lançado em 2018.