quinta-feira, 4 dezembro, 2025
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Carol Macedo: O resgate da nossa cultura

O assunto de hoje pode gerar tabu, mas que ele é importante para a nossa história e para o nosso mercado, acho que você vai concordar comigo ao final. Você certamente já viu o nosso brasão, aquele com as cores do país. Sabe o que são as plantas ao redor?

Do lado esquerdo temos o café. Você deve lembrar das aulas de história, da importância do café para a nossa economia, responsável por grande parte das riquezas do país, especialmente nas regiões de São Paulo e Minas Gerais. Ao lado, o que muita gente não sabe, é que a planta com flores brancas é tabaco. Sim, tabaco. Ele também foi extremamente importante na época, com grandes produções de folhas e charutos que eram consumidos e exportados para os principais países do mundo. Com a Segunda Guerra, conflitos políticos e crises econômicas, acabou perdendo espaço, mas nunca deixou de existir, ainda que quase não seja mencionado, talvez até pelo tabu que se impõe ao assunto.

Hoje, o Brasil é um grande produtor de charutos, com números que chegam perto de quatro milhões por ano, isso só de charutos premium, um produto totalmente artesanal. É um número ainda pequeno no cenário mundial, mas já significativo. As maiores marcas estão exportando para a Europa e Ásia, e as nossas folhas são usadas em blends de grandes casas pelo mundo todo. Esta semana foi apresentado o projeto para a Denominação de Origem do tabaco do Recôncavo Baiano e do charuto da mesma região, uma ação importantíssima para fortalecer esse mercado.

Cada vez mais tenho visto os esforços – principalmente regionais – para garantir certificados de denominação de origem. Café, mel, própolis, vinhos e até frutas. Ter um reconhecimento assim é trazer investimento para a região, fomentar a economia local, o turismo e, principalmente, a cultura.

Dito isso, não há uma semana em que eu não precise explicar para um consumidor que, sim, os nossos produtos são excelentes. É curioso como somos vítimas de nós mesmos. Como valorizamos o que é importado, mas não conseguimos valorizar aquilo que é nosso, produzido no nosso quintal, com o suor dos nossos irmãos, em um esforço que atravessa gerações.

Alguns anos atrás, uma cachaça que costumávamos usar para coquetéis sumiu do mercado. A resposta da marca foi que ela agora seria exclusiva para exportação, ainda que fabricada aqui, em Morretes, nossa vizinha. Uma grande perda para o Brasil. Mas o movimento contrário vem ganhando força. Enquanto escrevo este texto, uma garrafa de vermute brasileiro me espera. Sim, vermute brasileiro. Se você ainda não provou, faça esse favor a si mesmo. Tenho certeza de que, assim como eu, você vai se apaixonar.

Espero que esses movimentos de registro sigam crescendo, que o mercado internacional valorize cada vez mais os nossos produtos e que isso gere empregos e riqueza para essas comunidades. Mas, acima de tudo, desejo que a gente possa ver, viver e valorizar cada vez mais a nossa cultura aqui, dentro da nossa casa.

*Carolina Macedo é curitibana, empresária, cigar sommèliere e pioneira no universo dos charutos, atuando à frente da Bulldog Tabacaria e abrindo espaço para mais mulheres no setor. Fala sobre este universo, além de agendas de cultura e lazer.

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