sexta-feira, 28 novembro, 2025
HomeMemorial"Renato Freitas, muito além da cassação", por Aroldo Murá (2022)

“Renato Freitas, muito além da cassação”, por Aroldo Murá (2022)

Por André Nunes – O recente imbróglio sobre o deputado estadual Renato Freitas (PT), que se envolveu em uma briga na rua na semana passada e está sendo alvo de pedidos de cassação de seu mandato na Assembleia Legislativa (Alep), nos evoca a sensação de deja vu.

Em 2022, ainda como vereador de Curitiba, Renato teve seu mandato cassado (cuja decisão depois foi anulada judicialmente), por ocasião de um ato na Igreja do Rosário, amplamente politizado por seus opositores e polemizado na imprensa desde então. Na ocasião, nosso mestre jornalista, o Professor Aroldo Murá (falecido no início de 2023) escreveu sobre a cruzada promovida contra o parlamentar. Leia na íntegra.

Destaquemos alguns trechos da análise do Professor, reconhecido por seu trabalho jornalístico de mais 60 anos, como memorialista e retratista de perfis de paranaenses. Ou como os amigos e colegas gostam de comentar, um ótimo “definidor da alma humana”.

Renato Freitas: muito além da cassação

O vereador Renato Freitas foi cassado nesta quarta-feira (22), segundo informa a Câmara Municipal de Curitiba. Não me coloco entre os que se regozijam com a cassação do inquieto vereador do PT. Acredito até na revisão do ato. Ou judicialização da matéria, uma possibilidade muito forte.

Tenho fé: acho que ele ainda ganhará maturidade quando, então, suas teses não mais compuserem o “show off” de estão acompanhadas hoje. Afinal, as exibições e os espetáculos de hoje que o petista promove são apenas um grito para que lhe demos atenções. (…)

Renato não foi apenas vítima do chamado racismo estrutural, que historicamente comanda a pauta dos brasileiros. Do berço ao túmulo. Ele é olhado meio atravessado, é certo, por universo de homens e mulheres com quem convive diariamente. Um desses espaços é a Câmara de Curitiba, afoita em combater esse imaturo vereador – um dependente de espetáculos que ele mesmo promove e dirige.

Freitas quer se afirmar numa Casa de olhos tão fechados a gravíssimos temas que estão aí mesmo.

Aroldo Murá. Foto: Annelize Tozetto

Renato Freitas errou no caso da invasão à Igreja do Rosário? Claro. Isso foi a gota d’água para sua cassação por uma cordoeira de vereadores que estava esperando a chamada hora certa para dar o troco ao jovem que, um dia, entre outras sandices, declarou os pastores evangélicos como “picaretas”. Tão leviano quanto aquele deputado paulista que acabou chamando o arcebispo de Aparecida, dom Orlando Brandes, de “pedófilo”. Tudo porque, na Igreja Católica, a exposição de padres a crimes de pedofilia foi enorme.

Não passo a mão na cabeça de Renato, tento entender quanto essa jovem alma tem sofrido de discriminação racial e social numa cidade que ainda se acredita ser uma “Curitiba branca”; discriminação  que se avoluma quanto ele mais toca nas feridas de uma sociedade montada em cima de injustiças e separações que promove sob variados pretextos.

Se o Brasil de Renato Freitas é isso, o moço é um bom reflexo de nossas contradições: enfiamos bilhões de recurso públicos para financiar eleições e partidos que têm donos, mas não levantam palhas para educar os candidatos para o papel que pretendem exercer na vida pública com asfaltos e outras “cositas” mais….

E o resultado está aí: Renato Freitas é um deles. Mas não está sozinho, nem é a causa do imbróglio. (…)

Em outra via, a procissão dos insensatos atrelados às bênçãos que o prefeito lhes concede faz hoje de boa parte da Câmara uma casa do “Yes, man”. É expressão de obediência cega ao Executivo que lhes garante benesses, empregos, poderes para louvar padrinhos e força para atender a seus cabos eleitorais.

É assim que o alcaide e seus companheiros sonham com um justo julgamento da História, o que, acreditam, seriam merecedores, ao cassar “vozes inconvenientes” como as de Renato Freitas. Insensatos!

Leia Também

Leia Também