Por Katia Michelle – Não faz muito tempo que conheci definitivamente o Amarelinho, ops, o “Aqui é Batel!”. Falha minha, eu sei. O simpático boteco ostenta seu brilho amarelo na avenida mais conhecida do bairro, a Nossa Senhora da Luz. O cardápio é tão peculiar quanto a decoração, mas nada chama mais atenção do que “Seu” Beto, o fundador da causa, e seu jeito próprio de atender a clientela.
“Já falei! TOBE, ao contrário: BETO”, responde quando perguntam seu nome. Beto desliza pelo boteco com seu indefectível avental amarelo, sem nem uma camisetinha por baixo. Ora atrás do balcão, ora no atendimento. Não espere, porém, que ele pegue uma cerveja para sua mesa. “Eu administro, você trabalha!”, afirma quando alguém tenta solicitar uma gelada.
Há dois anos, no entanto, Beto não administra o bar. Vendeu para um garçom que trabalhou 13 anos com ele. Continua, no entanto, no atendimento diário. Ele é praticamente a “alma” do local. Entre passar o pano que fica em seus ombros nas mesas, servir os salgados prontos da prateleira do balcão, ordenar que os clientes sirvam sua própria cerveja e deixem a garrafa sobre a mesa para a conta final, ele conta seus causos e hábitos peculiares.

Um dos mais característicos é sobre o lugar onde mora: “um paraíso”. A chácara de quase 2 mil metros quadrados fica na divisa entre Curitiba e Araucária. Tem mesa de sinuca, plantas e tudo que ele precisa para ficar tranquilo e em paz. É lá que sua mulher, Lúcia, com quem é casado há 42 anos, cozinha todos os petiscos servidos no Amarelinho.
“Não tenho cozinheira, tudo é feito por ela e trazido para cá”, conta, avisando que tudo é feito para não perder a essência do bar. Isso significa “um pouco” de gordura, sal e muita fritura, como o torresmo, um dos mais pedidos do cardápio.
O cardápio, aliás, é extenso: sanduíches variados, pastel frito na hora (ou não) de siri, camarão, frango, costela, para citar alguns. “Quando você come o pastel de siri, você sente o cheiro do mar”, brinca. Provarei.
Já Seu Beto degustou todos os itens do cardápio, e ele tem orgulho em dizer que escolheu a dedo e testou o sabor com a mulher, no paraíso onde os dois moram. “Quero morrer antes dela porque, senão, passarei fome”, brinca. Não tirei foto dele. Não gosta. É um convite para você ir lá pegar sua própria cerveja e passar algumas horas ouvindo suas histórias. Não vai se arrepender.
Serviço
Aqui é Batel. De terça a sábado, das 12h às 5h; aos domingos, das 16h30 às 4h de segunda-feira. Av. Nossa Senhora Aparecida, 177.

*Katia Michelle é jornalista formada em Comunicação Social e bacharel em Artes Cênicas. Trabalhou durante uma década na Folha de Londrina, passou pelo marketing de grandes empresas e foi editora na Gazeta do Povo. Aprendeu que comida é mais do que a junção de ingredientes e, desde então, vaga entre palavras e receitas, procurando o léxico, o sabor e o aroma perfeitos.
