Por Raul Urban* – Curitiba, agosto de 1948
Foi na segunda quinzena de um mês, segundo a meteorologia, com dias nublados e temperaturas abaixo da média – afinal, o inverno havia chegado -, que os curitibanos que circulavam no centro da cidade se depararam com um movimento incomum de pessoas e veículos comerciais na esquina da Rua Ébano Pereira com a então Avenida João Pessoa – a atual Avenida Luís Xavier. A cidade, que tinha seu trânsito até ali administrado pelos braços ágeis e precisos dos agentes fardados da Guarda Civil, ganhava seu primeiro semáforo, atraindo a curiosidade popular. Postes metálicos ostentando um conjunto contendo luminárias vermelha, amarela e verde, e que alternadamente acendiam na medida em que o tráfego fluía, eram controlados pelos mesmos guardas, mas agora manuseando uma rústica manivela que trocava as cores. As pessoas ora olhavam para a troca das luzes, ora para os veículos, conferindo se não cometiam infrações.
Ricas informações foram obtidas por este colaborador em 1976, quando lotado na Assessoria de Imprensa do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba – IPPUC -, quando trabalhou em companhia do já falecido técnico José Veríssimo Siemsen (1918 / 2009), então com 61 anos, à época já por 25 anos ligado à sinalização urbana. Funcionário de carreira do antigo Departamento de Serviço de Trânsito – DST, Siemsen ingressou no serviço público em 1953. Efetivado, foi aprovado na carreira de fiscal em 24 de setembro de 1958. Ingressou no DST como inspetor – o equivalente a fiscal de trânsito, nomeado pelo então governador Bento Munhoz da Rocha. Na década de 1970, estava à disposição do IPPUC.
Siemsen lembra que nos primeiros anos da década de 1950, quando iniciou a carreira, existiam apenas 16 semáforos manuais na cidade, atuados pela Guarda Civil. Em 1951, conforme relato, os semáforos eram pintados de amarelo e instalados sobre velhos postes de ferro que mal recebiam manutenção. As localizações eram nos seguintes cruzamentos:
• Rua Barão do Rio Branco – entroncamento com a Avenida Visconde de Guarapuava; e ruas André de Barros, Pedro Ivo, José Loureiro, Marechal Deodoro e 15 de Novembro;
• Rua 15 de Novembro, esquina com as ruas Presidente Faria, Barão do Rio Branco, Monsenhor Celso, Avenida Marechal Floriano, Alameda Doutor Muricy;
• Rua André de Barros, esquina com a Rua Desembargador Westphalen;
• Rua Pedro Ivo, também na esquina com a Rua Desembargador Westphalen;
• Rua Ébano Pereira, cruzamento com a rua Cândido Lopes;
• Avenida João Pessoa (atual Luís Xavier) com Ébano Pereira – como narrado, o primeiro cruzamento a receber o mecanismo semiautomático, no referido agosto de 1948; e, por fim, o semáforo então existente no cruzamento da Avenida Marechal Floriano Peixoto e a Rua Cândido Lopes. Segundo Siemsen, esse semáforo, logo após sua implantação, foi derrubado duas vezes seguidas, por conta de acidentes de trânsito na região, fruto da desatenção de motoristas ainda não habituados à novidade.
No próximo capítulo, e dando continuidade ao tema, mostramos como o trânsito curitibano evoluiu nas décadas seguintes com a disseminação dos semáforos automáticos, e como se deu a gradativa mudança do serviço de trânsito, inicialmente de responsabilidade municipal, e cujo controle passou à esfera estadual.

*Raul Urban é jornalista, escritor, memorialista, pesquisador da memória histórica e ligado à área do transporte multimodal integrado e colaborador do Mural do Paraná.
