Eu sempre falo o quanto o universo dos charutos me ensina. A primeira grande lição é a paciência. Seja na hora de acender, um processo que precisa levar ao menos dois, três minutos, ou na degustação, que tem seu próprio tempo. Não há como acelerar um charuto. Quer dizer, até há… mas não sem sofrer as más consequências dessa escolha. É isso: toda escolha tem uma consequência. E, para desfrutar de um charuto ou de uma refeição, é preciso paciência e calma. Ir com sede ao copo nos afoga.
Recentemente acendi um charuto que eu estava ansiosa para provar. Reservei um momento especial, tudo estava perfeito, os astros alinhados, o aroma a frio era incrível e o fluxo prometia. Era um puro para ser degustado em cerca de duas horas. Os primeiros trinta minutos foram bons: a curiosidade pelos novos sabores e a expectativa pelos aromas que viriam me mantiveram atenta e otimista.
Mas, aos poucos, percebi que não havia evolução. Como era um momento especial, decidi trazer bebidas especiais para a mesa, quem sabe uma boa harmonização não salvaria aquela experiência? Veja, a degustação não era ruim. Em determinado momento até pensei que talvez o problema fosse a minha expectativa alta demais. Isso influencia, claro, mas ao terminar, analisando as minhas anotações, entendi: ainda que eu colocasse o melhor rum ali, aquele puro simplesmente não entregaria o que prometia.
E aí vem a reflexão: se a apresentação fosse outra, se o valor fosse outro, talvez a minha avaliação também fosse diferente. Talvez o maior problema nem tenha sido minha expectativa, mas sim a proposta vendida, mas isso já é assunto para os marketeiros. Hoje, aqui, quero só falar dos devaneios que a fumaça de um bom charuto provoca. A noite continuou, e entre drinks com amigos, comentei essa situação. Alguns que já tinham provado concordaram comigo; outros, que ainda não tinham experimentado, ficaram divididos entre fugir dessa experiência ou tirar suas próprias conclusões.
Ao fundo, Bethânia cantarolava “Como Dizia o Poeta”, de Toquinho e Vinicius. Eu falei que os astros estavam alinhados, né? Ela seguiu: “Porque a vida só dá pra quem se deu…” E talvez essa seja mais uma lição do mundo dos charutos (ou dos poetas!).
É preciso viver todas as experiências, sem arrependimentos, porque a gente nunca sabe o final e quem não se propõe a provar, não importa se o charuto é incrível ou não, “nunca vai ter nada, não.”

*Carolina Macedo é curitibana, empresária, cigar sommèliere e pioneira no universo dos charutos, atuando à frente da Bulldog Tabacaria e abrindo espaço para mais mulheres no setor. Fala sobre este universo, além de agendas de cultura e lazer.
