Nesta semana acontece o tal de “raloim*” – atestado máximo da nossa imbecilidade coletiva – escolas de inglês e filmes de quinta categoria disseminaram a praga entre nossas crianças e adolescentes, modismo irremediável que veio para ficar.
Pergunto: por que é que um povo tão rico em festas populares se submete a esta “coisa” americanizada chamada Dia das Bruxas? Para eles há sentido, mas para nós que temos festas maravilhosas como: Folia de Reis, Festas do Divino, Juninas, Carnaval, Boi Bumbá, Micaretas, Cavalhadas, Missa Crioula, do Vaqueiro, Iemanjá, Círio de Nazaré, Nossa Senhora dos Navegantes, Maracatu, Cavalo Marinho, Nêgo Fugido e tantas outras, o que é que temos a ver com isto? Tenha paciência, “raloim” não é da nossa história e nem do nosso imaginário religioso. Doeu-me muito ver certa vez uma festa de “raloim” em colégio de freiras.
“Raloim” é uma boa maneira de se criar cidadãos isentos de responsabilidade para com os costumes e cultura do nosso país. Em breve, com certeza passará a fazer parte do calendário oficial de alguma secretaria de cultura. É só dar tempo ao tempo que alguém oficializará o evento.
E a minha indignação não fica só as festas das bruxas americanas. Temos as modas country e seus caubóis de asfalto, hoje infestados em todas as classes. Recentemente uma informação foi me confirmada por um documentário sobre os Estados Unidos – o ciclo do cowboy durou pouco menos de 20 anos – o ciclo do nosso tropeirismo mais de 200 anos. Temos a mais variada gama de vaqueiros do mundo, das pilchas e bombachas gaúchas, às vestimentas pantaneira e nordestina. Porque temos que nos curvar aos texanos? Nada contra texanos, desde que eles fiquem no Texas.

A ditadura money-moda-mídia toma conta das nossas mídias onde imperaram a música country–from–Nashville ou o chamado, não sei por que de “sertanejo universitário”. Nutro-me de paciência, nosso povo já se acostumou a beber água de outra fonte que não a sua.
Breve alguns mitos brasileiros tais como, boitatá e Saci-Pererê não passarão de lendas remotas, porque os duendes, gnomos e bruxas estão ganhando a parada. Eles já têm até lojas especializadas, organizadas em redes de franquias. Adesivos “eu acredito em gnomos” estão em todos os tipos de carros.
Voltando ao “raloim”, por que será que a mídia dá tanto espaço para este assunto? Por acaso nossos jornalistas, que deveriam defender a cultura pátria, já estariam contaminados? Importantes livros das lendas brasileiras escritos por Clarice Lispector, Moacyr Scliar e ilustrados por Lazar Segal foram editados e não se falou uma linha sobre o assunto. Penso que o folclore, a música autêntica brasileira, dança e costumes populares soam para a nossa classe média e para o pessoal “das zelites” como coisas de pobre. Chique mesmo tem que vir de Miami.
Importar boa cultura, bons costumes, tecnologia e novas palavras para nosso vocabulário não é de todo ruim. Mas “raloim”? Merecemos a pecha de colonizados, e ao que tudo indica, ficaremos neste buraco por muito tempo.
*Halloween significa “todas as almas santificadas”. É o dia que antecede ao de Finados. Festa tipicamente americana, com origem no antigo Egito.

*Eloi Zanetti é escritor, especialista em marketing e comunicação corporativa. Contato: eloizanetti@gmail.com
