quinta-feira, 16 outubro, 2025
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No trânsito urbano, pequenas gentilezas fazem grande diferença

Memória Urbana, por Raul Urban* – Curitiba, cerca de 7 horas da manhã, ou por volta das 18h30, 19 horas: a cidade vive os horários plenos do rush, quando os motoristas convivem com um alto nível de stress provocado por um trânsito urbano nervoso e que, quase sempre, resulta em monumentais engarrafamentos, acompanhados pelo nada melodiosos buzinaços que fazem qualquer um – sejam pedestres, sejam condutores – perder a paciência. A solução está na prática de pequenos gestos de gentileza, capazes de apaziguar o tumulto, com pequenos, mas expressivos, gestos de gentileza mútua. Uma receita, aliás, lembrada pelos psicólogos e planejadores urbanos que diariamente lidam com isso, mas, e principalmente, pela própria população que quer segurança ao dirigir ou atravessar a rua sem receio.

No início dos anos 1970, quando o saudoso prefeito Jaime Lerner, em seu primeiro mandato, decidiu humanizar a Curitiba, então com cerca de 400 mil habitantes, dando prioridade aos pedestres, também presentou a cidade, em 1972, ao inaugurar o primeiro calçadão exclusivo para quem circula a pé. Num ato até ali inédito vindo de um administrador público, em maio de 1972 literalmente interditou a passagem de veículos na rua mais central da cidade – a XV de Novembro. Mesmo nas ruas próximas e que, em conjunto, formavam o chamado Anel Central de Tráfego Lento, o pedestre, nos cruzamentos, sempre foi prioridade, incentivando-se a gentileza e o respeito mútuo. A ideia, na atualidade, quando quase dois milhões de pessoas se aglomeram e circulam na capital paranaense, é fomentar esses gestos, propondo-se uma campanha à administração municipal para tal propósito.

Pequenos gestos, grandes resultados

Ao cruzar a faixa, basta o pedestre acenar para o motorista, como um gesto de cortesia, para sinalizar a intenção de atravessar. Em resposta, o condutor, mesmo nas horas de maior movimenta, para antes da faixa, responde com um piscar dos faróis. O aceno é, em resumo, um ato de empatia que garante a segurança de ambos. Alerta o motorista sobre o início da travessia – porque tem a preferência -, e facilita o fluxo do tráfego. É como dizer “oi”, facilitando a comunicação, além de um agradecimento prévio.

Ao pedestre, com prioridade, como diz o Código de Trânsito Brasileiro, cabe seguir os deveres básicos para um bom convívio com quem dirige: antes de atravessar, olhar para os dois lados; no cruzamento, estender o braço sinalizando a intenção de atravessar, especialmente onde não ´há semáforos. A travessia deve ser rápida, e nada de se distrair olhando o telefone celular, comprometendo a segurança.

No entender dos psicólogos que se debruçam sobre o aparente caos nos grandes centros urbanos nos momentos de trânsito mais crítico, esses pequenos gestos, aparentemente triviais, remetem a significados mais profundos, porque, enquanto normas sociais, refletem gratidão, empatia e respeito – enfim, uma apreciação genuína pelas ações dos outros, resultando em benefícios emocionais e sociais.

Em suma: pessoas gratas, quando mutuamente gentis, tendem a focar mais nos aspectos positivos da vida, ajudando a lidar com as adversidades de forma mais eficiente. Reunindo num só bloco representantes da população, engenheiros de trânsito, psicólogos e planejadores urbanos, uma bem estruturada campanha publicitária voltada para o bem-estar de todos pode, de forma renovada, estimular a humanização e o convívio urbano, como aconteceu há cinco décadas, fazendo de Curitiba uma referência nacional nesse harmônico modus vivendi.

*Raul Urban é jornalista, escritor, memorialista, pesquisador da memória histórica e ligado à área do transporte multimodal integrado e colaborador do Mural do Paraná.

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