Meu celular é uma biblioteca infinita de vídeos e fotos sobre charutos e bebidas. É meu trabalho, meu objeto de estudo e também a ferramenta com a qual produzo conteúdo para as redes sociais. A sensação que tenho é que, quanto mais trabalho com o celular, mais quero ficar longe dele nos outros momentos.
Dias atrás, enquanto tentava criar aqueles “dumps” do mês, me peguei pensando se eu realmente só havia trabalhado nos últimos 30 dias. Por sorte, não. Vivi muita coisa boa além do trabalho, que também amo, mas me faltaram registros desses momentos e dessas pessoas.
Meu primeiro impulso foi ficar chateada: “Como eu não lembrei de registrar isso?”
Mas, em seguida, eu sorri. Sorri porque percebi que, enquanto vivia tudo aquilo, o celular ficou na bolsa. Eu saboreei a comida, prestei atenção aos aromas ao meu redor, aos sorrisos das pessoas que amo. Estava presente nas conversas e até nos silêncios. Percebi também que, quanto menos eu pegava o celular, menos as pessoas ao meu redor pegavam o delas.
Ainda uso o celular de forma absurda. Meu tempo de tela prova que estou longe de ser alguém livre dessa dependência que esse pequeno pedaço de plástico gera. Também quero ter mais registros ao lado dos meus amigos, das pessoas que amo, dos momentos de lazer. Registrar esses encontros também é importante, mas que privilégio é poder ter estado inteiramente presente.
Em um mundo em que o que não é registrado parece não ter acontecido, posso dizer, com certeza, que vivi sonhos lindos recentemente. Espero que você também tenha a oportunidade de, de vez em quando, esquecer as notificações na bolsa e simplesmente viver o que acontece à sua frente.
*Carolina Macedo é curitibana, empresária, cigar sommèliere e pioneira no universo dos charutos, atuando à frente da Bulldog Tabacaria e abrindo espaço para mais mulheres no setor. Fala sobre este universo, além de agendas de cultura e lazer.