domingo, 28 setembro, 2025
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Geração Z: “Síndrome do Impostor Reversa” preocupa empresas

Assessoria – A diferença entre expectativa e realidade nunca foi tão grande no início de uma carreira, segundo estudos como o da Bloomberg (2023) que mostra que jovens da Geração Z consideram que o salário mínimo para se sentirem bem-sucedidos deveria estar entre 500 e 600 mil dólares anuais, com média de 587.797 dólares. Já a National Association of Colleges and Employers (NACE, 2024) registrou um salto inédito nas pretensões salariais de recém-formados entre 2023 e 2025. Do outro lado, empresas relatam o impacto: de acordo com pesquisa da Intelligent.com (2024), mais da metade dos empregadores já evita contratar graduados sem experiência, alegando desalinhamento de expectativas e falta de preparo prático.

O fenômeno tem sido chamado de síndrome do impostor reversa, um padrão psicológico em que o profissional não se sente uma fraude, mas, ao contrário, acredita estar acima das oportunidades disponíveis. Para o consultor de carreira e diretor acadêmico da ESIC Internacional, Alexandre Weiler, essa percepção não nasce da arrogância, mas de um contexto cultural e social. “Trata-se de um reflexo de uma geração que cresceu cercada por narrativas de sucesso instantâneo e que, embora seja a mais educada da história, se tornou também a mais rejeitada pelos empregadores”, explica.

O impacto das redes sociais

Consultor de carreira e negócios da ESIC Internacional, Alexandre Weiler

Um dos fatores que alimentam esse comportamento é o papel das redes sociais, hoje fonte primária de informação para muitos jovens. Plataformas como TikTok e Instagram exibem carreiras meteóricas, ganhos elevados e estilos de vida luxuosos, gerando a sensação de que esse é o padrão a ser seguido. “O jovem observa pessoas da mesma idade trabalhando remotamente, conquistando fama ou consumindo bens de luxo, e passa a acreditar que qualquer vaga com salário inicial modesto é uma subestimação de sua capacidade. Isso cria expectativas que simplesmente não se sustentam na realidade do mercado”, afirma Weiler.

A desconexão não se limita ao imaginário digital. Empresas relatam dificuldades recorrentes com recém-formados, que muitas vezes não apresentam preparo prático, habilidades interpessoais consolidadas ou resiliência diante de desafios. O resultado tem sido demissões precoces e aumento da rotatividade. “Existe um choque entre promessa e entrega. O diploma abre a porta, mas é a capacidade de gerar resultado que sustenta a carreira. Quando isso não é compreendido, a frustração é inevitável tanto para os jovens quanto para as organizações”, reforça o consultor.

Reação do mercado

As consequências da chamada síndrome do impostor reversa já começam a impactar diretamente o mercado de trabalho, com empresas relatando maior cautela ao contratar recém-formados, diante do risco de alta rotatividade e dos custos elevados com processos seletivos e treinamentos que não se convertem em resultados de longo prazo. “Ao mesmo tempo, jovens profissionais veem suas trajetórias interrompidas precocemente, acumulando experiências curtas que dificultam a consolidação de uma carreira sólida. Esse ciclo fragiliza tanto a confiança das organizações em novos talentos quanto a autopercepção da própria geração”, comenta Weiler.

Para o consultor, reverter esse cenário depende de uma ação conjunta, com empresas adotando maior transparência sobre salários e progressão de carreira, enquanto universidades devem aproximar a formação acadêmica das práticas do ambiente corporativo. Aos jovens, cabe ajustar expectativas a partir de dados reais e comprovar resultados concretos desde o início da jornada profissional. “A realidade não negocia com expectativas. Quanto mais cedo a Geração Z entender isso, maiores serão as chances de construir carreiras sólidas e sustentáveis”, conclui Weiler.

Recomendações práticas

Para empresas: “Muitas descrições de vagas usam uma linguagem inflacionada, que cria a falsa ideia de uma posição mais glamourosa do que realmente é. Isso só aumenta o desalinhamento de expectativas”, afirma Weiler, que também recomenda descrições claras, trilhas de crescimento bem definidas e programas de “micro-experiência”, que permitam ao jovem mostrar sua competência antes da contratação plena.

Para universidades e escolas técnicas: “Projetos aplicados, simulações de situações reais e estágios supervisionados aproximam a formação acadêmica da rotina corporativa. Sem essa vivência, o choque com a realidade do primeiro emprego é inevitável”, explica o especialista.

Para jovens profissionais: recém-formados também precisam assumir seu papel,  buscando mentores, construir portfólios com resultados concretos e usar dados reais de mercado para calibrar expectativas são passos fundamentais. “A carreira se sustenta em entregas, não em projeções”, finaliza Weiler.

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