segunda-feira, 15 setembro, 2025
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Homofobia, hipocrisia e tensão em cena: Tom na Fazenda

Por André Nunes – Dentre os espetáculos que marcaram o Festival de Curitiba de 2018, Tom na Fazenda certamente permeia a memória do público que assistiu às duas apresentações no Teatro da Reitoria. Foi meu caso. Na época, Armando Babaioff – ator e tradutor da obra de Michel Marc Bouchard – dividia a cena com Kelzy Ecard, Gustavo Vaz e Camila Nhary. O espetáculo havia estreado um ano antes, em março de 2017.

De lá para cá, oito anos, muitas sessões, prêmios e um Festival Fringe (em Edimburgo) depois, Tom na Fazenda retornou a Curitiba no dia 11 de setembro, para temporada de seis sessões até esta terça-feira (16) no Guairinha. Desde sua estreia, o espetáculo já percorreu diversas cidades, foi assistido por mais de 70 mil pessoas e conquistou importantes prêmios, como APCA, Shell, Cesgranrio e APTR.

As fotos de Lina Sumizono, exclusivas para o Mural do Paraná, ajudam a captar os momentos mais marcantes em cena, com direção de Rodrigo Portella.

Foto: Lina Sumizono

Agora ao lado de Iano Salomão e Denise Del Vecchio – que dão vida ao truculento irmão/cunhado Francis e à sofrida matriarca/sogra – Babaioff e Nhary retornam aos seus papeis de Tom e Sara, a suposta namorada.

Foto: Lina Sumizono

Breve sinopse: o publicitário Tom (Babaioff) vai à fazenda da família para o funeral de seu companheiro. Ao chegar, descobre que a sogra (Del Vecchio) nunca tinha ouvido falar dele e tampouco sabia que o filho era gay. Nesse ambiente rural e austero, Tom é envolvido numa trama de mentiras criada pelo truculento irmão (Salomão) do falecido, estabelecendo com aquela família relações de complicada dependência. A fazenda, aos poucos, vira cenário de um jogo perigoso, onde quanto mais os personagens se aproximam, maior a sombra de suas contradições.

Foto: Lina Sumizono

Com um cenário igualmente austero, apenas uma enorme lona escura pregada ao chão, barro e muitos baldes de água, Tom na Fazenda envolve o público desde os primeiros minutos, criando uma atmosfera de tensão palpável, em especial na dinâmica em cena de Tom e Francis. Homofobia, tesão, hipocrisia, tensão sexual, repressão e muita brutalidade permeiam a relação que vai se criando entre os dois homens, que julgam que a matriarca a tudo ignora.

Foto: Lina Sumizono

Nesse sentido, a brilhante atuação da veterana Denise Del Vecchio ajuda a equilibrar o excesso de virilidade no palco, com atos maternais cuidadosos, uma fé claudicante e a angústia de quem perdeu um filho e vive às voltas com a infelicidade do outro rebento. Francis é um homem frustrado por nunca ter saído da fazenda, supostamente para cuidar da mãe, mas guardando consigo camadas de repressão e violência – consigo e com quem o cerca.

Foto: Lina Sumizono

Por sua vez, Tom abraça (e se suja cada vez mais) a realidade daquela fazenda, para suprir a falta de seu companheiro, a hipocrisia deste (que o traia com homens e mulheres na cidade em que viviam), realidade escandarada com a chegada de Sara, que finge ser sua namorada/viúva para supostamente acalmar a mãe/sogra.

Foto: Lina Sumizono

Tom na Fazenda é o teatro em sua forma “raiz”, que gera um misto de emoções no público, provoca discussões e reflexões das mais variadas. De todas as atuações, cada uma em um tom, é inegável o brilho, a força e entrega de Armando Babaioff neste espetáculo que marca sua trajetória como ator e realizador.

Para quem ainda não conferiu, as duas últimas sessões acontecem hoje (15) e amanhã (16), às 20h30, no Guairinha. Ingressos à venda pelo Sympla.

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