quinta-feira, 11 setembro, 2025
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Preta do Leite chega aos Quilombos do Paraná

Assessoria – Depois de percorrer territórios indígenas e assentamentos, a Preta do Leite se ajeita para percorrer mais um pedaço de estrada, dessa vez até chegar em comunidades quilombolas do Paraná. Essa é a segunda e última fase do projeto de circulação da pesquisadora, professora, cantora e atriz londrinense Edna Aguiar, aprovado pela Secretaria de Estado da Cultura do Governo do Paraná, com recursos da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB) do Ministério da Cultura, através do Edital Viva Cultura. Batizado de Mundo do Meio, vem promovendo a circulação da performance numa ação de promoção da democratização do acesso à arte e cultura.

A montagem, que mistura teatro, contação de história e música, é o resultado ainda em construção, de uma intensa pesquisa de Edna Aguiar das tradições vivas através da oralidade feita de Itans, as narrativas míticas e sagradas da cultura iorubá, histórias indígenas, contos populares, canções tradicionais, elementos da cultura africana e consequentemente, seus efeitos sobre a cultura brasileira.

“A primeira parte do nosso projeto se deu de forma muito orgânica e tranquila, o que era uma vontade já que se trata de um sonho se tornando realidade. Da mesma forma, as trocas que foram além. Para mim, como contadora de histórias e artivista, foi muito importante estar nesses territórios e entender as histórias a partir do olhar da comunidade e isso aconteceu de uma forma muito bonita. Descobri que algumas histórias que eu contava já não eram mais contadas há muito tempo nos territórios indígenas e por conta disso, a conversa com os mais velhos foram muito importantes para o meu trabalho e para a percepção de que essas histórias precisam ser recontadas e despertadas”, comenta Edna Aguiar.

Ao longo desses quase seis meses de circulação, a equipe pode conhecer mais sobre a realidade da vida das pessoas que habitam as terras indígenas, os acampamentos e assentamentos e isso acontece de um modo ainda mais forte no contato com as mulheres, adolescentes e crianças, o público com quem a Preta do Leite teve um contato mais estreito. “O mais importante foi justamente passar por esses territórios e entender essas histórias a partir do ponto de vista do público. Entendendo onde a história cresceu um ponto ou diminuiu. E nada melhor do que indo até um povo para saber das suas próprias histórias”, completa a atriz.

Histórias, lendas, registros, memórias compartilhadas por gerações através da tradição oral. A montagem que segue para os quilombos a partir dessa semana, com uma primeira apresentação no Quilombo Restinga, na cidade da Lapa nesta sexta (12), mistura teatro, contação de história e música e  é o resultado ainda em construção, de uma intensa pesquisa de Edna Aguiar das tradições vivas através da oralidade feita de Itans, as narrativas míticas e sagradas da cultura iorubá, histórias indígenas, contos populares, canções tradicionais, elementos da cultura africana e consequentemente, seus efeitos sobre a cultura brasileira.

Edna Aguiar. Foto Valéria Felix

A personagem traz em si as confirmações das escolhas da artista no seu longo caminho da arte. “A Preta, ela é uma mulher forte, decidida na sua comunicação. Seu objetivo é comunicar e assim também comunico, de forma muito clara e específica, as minhas ancestralidades. Sou neta de kaingang  por parte de mãe e sou descendente de africanos por parte de pai e isso interfere de forma muito concreta e clara no meu trabalho, algo que eu ainda não tinha assumido. A essa altura, quis falar das minhas ancestralidades que foram subjugadas e apagadas durante tantos anos. Inclusive pra mim mesma. A Preta do Leite tem como objetivo maior informar”, diz.

Preta do Leite

A Preta do Leite também é uma mítica figura que existe no imaginário da cultura popular, presente em vários lugares do país, principalmente no Paraná e em Minas Gerais. Uma mulher preta, muito falante, que saía ainda de madrugada de sua casa para levar leite de porteira em porteira, parando para prosear, saber e contar as novidades com quem quer que encontrasse. O problema é que às vezes, quando chegava no fim da viagem, o leite já estava coalhado de tanto que ela parava para papear. “Ela cumpria a função de informar as pessoas do que acontecia dentro dos seus territórios, funcionava como uma rádio ambulante. Falar como a Preta do Leite significa prosear sem limites, falar pelos cotovelos, ser o leva-e-traz de histórias entre vizinhos”, explica Edna Aguiar, que dá vida a essa personagem desde 2010, quando descobriu entre suas qualidades de artista a de contadora de histórias. A performance traça, através de sua escrita, uma perspectiva genuína dos acontecimentos históricos relacionados à colonização e extermínio dos povos negro e originários do Brasil.

Depois do Quilombo Restinga (Lapa), a Preta do Leite segue para o Assentamento Eli Vive II, no distrito de Lerroville em Londrina (dia 17) e por fim, no Quilombo Batuva, em Guaraqueçaba, na Região do Vale do Ribeira (dia 20).  O projeto pode ser acompanhando também através do perfil no Instagram (@memoriasdapretadoleite). Além das apresentações, ainda está prevista a produção de um curta-metragem documental a ser exibido nas comunidades visitadas, entregue ao patrocinador e disponibilizado no canal da proponente, para livre acesso.

Datas, horários e territórios

  • 12/09: Quilombo Restinga, na cidade da Lapa.
  • 17/09: Assentamento Eli Vive II, Londrina/PR, distrito de Lerroville
  • 20/09 : Quilombo Batuva, cidade de Guaraqueçaba, Região Vale do Ribeira

O Mundo do Meio é um projeto aprovado pela Secretaria de Estado da Cultura do Governo do Paraná, com recursos da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB) do Ministério da Cultura.

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