Por Katia Michelle – Tenho uma amiga que, quando a conheci, tinha um apartamento, uma geladeira, um sonho e muitos temperos prontos na geladeira. Daqueles famosos, com muitos “erres”, disfarçados de amor, tabletes, potes, sachês. Assim que vi esse arsenal, pensei em terminar a amizade. Veja bem, tempero pronto é como gostar ou não gostar de coentro. Muitas relações já acabaram por isso.
Com uma diferença: você não prejudicará sua saúde se consumir (ou não — e não ser meu amigo) coentro. Já os temperos industriais… têm tantas letras e palavras que mal consigo lembrar. Excesso de sódio, sal, glutamato monossódico, conservantes, aditivos, açúcares e nem sei. Adeptos da culinária natural, mesmo os não radicais, apontam que, quando o produto industrial tiver mais de três ingredientes que você não sabe o nome, é melhor fugir deles.
Eu não sei o que significa inosinato dissódico e guanilato dissódico, e os nomes já assustam. Por isso, prefiro a cebola e o alho, aqueles naturais que deixam cheiro na mão e sabor na comida. Voto por cortar a cebolinha e, no máximo, comprar cortadinha quando não há tempo.
Mas a cebola, o alho, o sal, o alecrim roubado do quintal da casa da rua, o salsão encontrado na feira com folhas tenras e sedosas, a noz-moscada redondinha, ralada na hora, a pimenta que arde os olhos quando se moe na hora, deixando de ser grão para virar pó.
Esses não podem faltar. Olhe agora no seu armário ou geladeira. Pesquise uma receita em um site popular. Se tiver tempero pronto, eu imploro: jogue fora e seja bem-vindo a uma vida com bem mais sabor. E amor.
*Katia Michelle é jornalista formada em Comunicação Social e bacharel em Artes Cênicas. Trabalhou durante uma década na Folha de Londrina, passou pelo marketing de grandes empresas e foi editora na Gazeta do Povo. Aprendeu que comida é mais do que a junção de ingredientes e, desde então, vaga entre palavras e receitas, procurando o léxico, o sabor e o aroma perfeitos.