segunda-feira, 18 agosto, 2025
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Memória Urbana: A gênese de bairros que formaram Curitiba 4

Raul Urban* – Um centro urbano, e independe do tamanho, tem, sempre, sua área central e a periferia – que são os bairros, mais ou menos habitados, mas de fundamental importância para o desenvolvimento urbano e regional. No correr do tempo, aqui no Mural do Paraná, muitos desses bairros que compõem a Curitiba de hoje foram retratados com suas lembranças, suas histórias e suas respectivas infraestruturas, deixando bem claro que as múltiplas etnias foram responsáveis pelo citado desenvolvimento. As levas e levas de imigrantes, depois os migrantes vindos de outras regiões do Paraná ou do país, erigiram essa infraestrutura.

Seguindo a caminhada histórica dos bairros curitibanos – e ao todo, oficialmente, são 75 -, hoje a visita se estende ao Pilarzinho e ao Prado Velho, geograficamente em pontos diversos, mas contribuindo para a conformação urbana da Curitiba sempre em desenvolvimento.

Pilarzinho

A origem do bairro remonta ao século 18, e o nome deriva de uma velha capela construída em 1738, dedicada a Nossa Senhora do Pilar. A igrejinha foi demolida em 1932, dando lugar à atual capela, na Rua São Salvador. Predominam as influências dos imigrantes poloneses, ucranianos e alemães ali chegados, deixando as marcas das suas culturas.

Ainda antes das grandes áreas agrícolas implantadas pelos imigrantes germânicos que ali criavam gado e cultivavam alimentos, a região da Cruz do Pilarzinho abrigou os primeiros colonos, ainda o período da Quinta Comarca de São Paulo, que usavam a cruz como símbolo da conquista e posse das terras. Mas, ao contrário de o que diz Ermelino de Leão em seu Dicionário Histórico e Geográfico do Paraná, de 1926, não há registro de pilares, ou “pilarzinhos”, atestando que o nome do bairro decorra da padroeira de espanhóis.

Cruz do Pilarzinho

O Pilarzinho, na face norte da cidade, faz divisa com os bairros São João,  Vista Alegre, Bom Retiro, São Lourenço, Abranches e Taoão, e também com o município de Almirante Tamandaré.

Prado Velho

Um dos mais antigos bairros da cidade, abrigou o primeiro hipódromo – então chamado Prado Curitibano -, em 1955 transferido para o bairro Tarumã, no espaço que hoje abriga o Jóquei Clube. “Prado Velho” passou a ser o “novo” nome da antiga área reservada à corrida de cavalos. Em 1959, a então Universidade Católica do Paraná (UCP) – hoje Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) ocupou aquela área, que passou por profundas transformações e atraindo o progresso local.

“Prado”, a propósito, é palavra que vem do latim “pratum” – lugar plano, planície – identificando o terreno que abrigou o hipódromo. Uma curiosidade: em 1914, ano em que iniciou a Primeira Guerra Mundial, o hipódromo foi endereço de onde partiu o primeiro voo e posterior pouso de um avião em Curitiba. E o local foi ainda o primeiro endereço de um jogo de futebol da cidade, antes d construção dos atuais estádios dos clubes. A PUC-PR até hoje realiza espetáculos culturais e artísticos na Concha Acústica que originalmente cobria a arquibancada do hipódromo, de onde o público assistia as corridas.

Breve história – No dia 29 de novembro de 1873, o jornal “O Dezenove de Dexembro” convidava os curitibanos para a criação de um Clube de Corridas de Cavalos, inicitiva de um então conhecido domador de cavalos, Luiz Jacome de Abreu. A fundação se deu no ano seguinte, em terreno onde está o Hospital Nossa Senhora da Luz. Chamava-se Prado Jacome, espaço mais tarde transferido para a estrada velha ligando a capital a São José dos Pinhais, no Guabirotuba. Os quatro primeiros páreos oficiais ocorreram em 18 de março de 1900.

Quatro anos depois, bondes elétricos transportavam os aficcionados, enquanto carros e cavaleios circulavam pela estrada entre nuvens de poeira. Foi na gestão do presidente Edgard Alencar Guimarães que se construiu o muro externo e a nova arquibancada, agora coberta. Era ali que a sociedade curitibana se reunia aos domingos, exceto em dias de chuva, quando a pisa de terra batida se transformava num grande lamaçal. Problema resolvido em 1942, com a colocação de camadas de aria, o que perdurou até 1955, quando o hipódromo foi transferido para o bairro Tarumã – objeto de matéria futura neste espaço.

*Raul Urban é jornalista, escritor, memorialista, pesquisador da memória histórica e ligado à área do transporte multimodal integrado e colaborador do Mural do Paraná.

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