quinta-feira, 14 agosto, 2025
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Marcus Gomes: Com 102 andares, Empire State deixou NY à sombra

O Empire State Building reinou por 70 anos. Com seus 380 metros e 102 andares, ele parece ter dormitado durante décadas até irromper no asfalto de Manhattan e se erguer gigantesco, da base ao pináculo, em uma fração de segundos. Sim, a cena descrita é muito semelhante àquela do filme “Guerra dos Mundos”, dirigido por Steven Spielbeg em 2005, e poderia causar frisson maior do que o da máquina alienígena que atravessa o asfalto se, agarrado à antena de 60 metros do edifício, emergisse também o gorila King Kong em toda a sua fúria.

O Empire State, que é também um condomínio, ainda que o conceito de condomínio entre os norte-americanos seja um tanto fluido, ergueu-se sobre os escombros de um hotel icônico: o Waldorf-Astoria Hotel. Nada a reclamar. Quando o arranha-céu começou a ser construído, em 1930, o hotel ficara tristemente antiquado. Ainda mais, a elegante vida social de Nova York há tempos já se mudara para o norte, levando a reboque a intelectualidade que dava expediente no hotel vizinho, o Algonquin, em cuja távola redonda se reuniam diariamente, ou quase, um círculo de jornalistas e comediantes de prestígio. Dorothy Parker e Robert Benchley entre eles.

Erguido em tempo recorde, apenas 13 meses, a imponência do Empire State e, especialmente, sua condição de maior prédio do mundo, seria justificável pela pujança da economia americana. Mas esse não era o caso.  A queda da bolsa de Nova York ocorrera um ano antes, com a mesma velocidade com que, logo depois, investidores e especuladores arruinados se atirariam do alto dos prédios.

O projeto do Empire State só não sofreu os abalos sísmicos que se esperava porque o grupo de milionários que assumiu a construção, entre eles membros da família du Pont, decidiu vender as ações da empresa pré-derrocada. Ao mesmo tempo em que o grupo anunciou o lançamento da pedra fundamental do edifício, Alfred E. Smith, ex-governador de Nova York, nomeado presidente da empresa, reunia a imprensa para proclamar aos quatro ventos que o edifício seria erguido com 80 andares. A pretensão de Smith era construir um edifício inigualável. Mais alto do que qualquer outro existente na América ou no mundo. Assim, os planos foram elaborados dentro de um orçamento de US$ 50 milhões que, pasme, não estourou, não sofreu adendos e galgou firme e sólido até sua conclusão.

King Kong de 2005, de Peter Jackson

O Empire State foi projetado para comportar salas comerciais, uma vez que a Nova York do pós-Grande Guerra, a primeira delas, se expandia em proporções colossais. Com o crescimento das indústrias em todo o país, escritórios de representação passaram a disputar espaço no centro administrativo da cidade e a demanda seria fabulosa não fosse aquele detalhe, já mencionado, da quebra da bolsa e de sua consequência imediata: a grande depressão.

O edifício se beneficiaria da publicidade reunida em torno dele nos anos seguintes, mas os proprietários do Empire só veriam seu investimento transformado em lucro no início da década de 1950, quando os inquilinos e proprietários de salas ou de andares começaram a preencher os espaços vazios antes ocupados por moscas ou por coisa pior: os agentes de seguro. Havia, sim, entre os apocalípticos, e talvez entre os integrados, o palpite de que o prédio gigantesco um dia cairia porque, afinal, tudo cai. Daí para a venda de apólices a quem apostasse que a queda do Empire State arrasaria quarteirões era um passo. Há mais a contar.

Marcus Gomes é jornalista e advogado. Escreve sobre política, direito e assuntos do dia a dia.

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