Hoje eu quero falar sobre um país onde, até pouco tempo, não havia leis destinadas à produção de whisky. No Japão, desde que uma bebida fosse engarrafada em seu território, era o suficiente para receber o título de whisky japonês. Imagine que isso abre uma brecha gigante para enganar, ou melhor, para induzir o consumidor ao erro.
Algumas destilarias, tradicionais e sérias, como a Suntory, passaram a vender seus whiskys sem idade declarada (NAS – no age statement) e registrando, com autoridades, o envelhecimento das suas bebidas. Para manter a empresa girando muitas passaram a produzir bebidas como gin, vodka e whisky de grão, como é o caso do The Chita produzido pela Suntory.
O The Chita surge em 2015, quando há um grande vazio no mercado com whiskys japoneses. A Suntory não divulgou maiores informações sobre a bebida, mas alguns grandes nomes do estudo de whisky defendem que o cereal base é milho.
Além disso, após a destilação uma combinação de barricas de jerez e bourbon garantem as notas tão únicas desse whisky. Delicado, frutado, floral e nada agressivo, ele é muito fácil de ser apreciado. Aliás, o desejo da marca pela ausência de informações é tão grande que eles nem queriam fazer parte das listas e rotas de destilarias do Japão.
A bebida surge no mercado originalmente para compor drinks, a marca inclusive sugere, além de drinks, degustá-lo com água como é costume dos japoneses. Inclusive com água quente, sendo três partes de água para uma de whisky. Com os valores aqui no Brasil e com a qualidade e singularidade dessa bebida não acredito que ninguém vá seguir essa orientação e o mais comum segue sendo ser consumido puro.
Outra bebida famosa da Suntory é o Hibiki. A palavra quer dizer “harmonia”, um conceito profundamente enraizado na filosofia japonesa e, ao provar, fica óbvio o porquê desse nome ter sido escolhido. A embalagem, além de linda, também é repleta de significados.
São vinte e quatro facetas onde cada uma representa uma das vinte e quatro estações do antigo calendário solar japonês, uma pequena homenagem à passagem do tempo e à natureza cíclica da vida. O Hibiki foi lançado especialmente para celebrar os 90 anos da empresa e a sua produção combina tradições da produção da bebida no mundo, mas também no Japão.
O envelhecimento por exemplo acontece em uma combinação de barris de carvalho americano, carvalho europeu e barris feitos de Mizunara, um raro carvalho japonês. Tudo isso garante notas únicas. No aroma flores, frutas frescas e um toque de especiarias e alecrim.
No paladar ele é macio e sedoso, com camadas de mel, chocolate branco e zest de laranja. Se você assim não conhece a madeira Mizunara, é ela a responsável pelo singular amadeirado que fica no retrogosto. Ao provar fica bem fácil de distinguir.
A carta da Suntory não para de crescer e as medalhas e premiações também não. Por isso, ao se deparar com uma dessas garrafas não hesite em aceitar uma dose e, caso queira combinar com um bom charuto o The Chita fica super elegante com um Hoyo de Monterrey Epicure Nº2, ainda nos clássicos um Partagas Serie D nº4 é a pedida certa para o Hibiki, o dulçor equilibra a picancia e torna a degustação ainda melhor!
*Carolina Macedo é curitibana, empresária, cigar sommèliere e pioneira no universo dos charutos, atuando à frente da Bulldog Tabacaria e abrindo espaço para mais mulheres no setor. Fala sobre este universo, além de agendas de cultura e lazer.