Por Raul Urban* – Uma cidade é feita de histórias, lembranças e memórias. E é esse o objetivo deste espaço – o que chamamos Memória Urbana -, quando o propósito deste colaborador, jornalista, pesquisador da memória histórica e ligado à área do transporte multimodal integrado, neste espaço, periodicamente mergulha em fatos e detalhes que contam fatos curiosos, interessantes e importantes para o desenvolvimento e o bom planejamento urbano. A estreia se dá com um breve olhar sobre a forma de como os bairros – oficialmente são 75 -, surgidos no andar dos 332 anos, contribuíram para consolidar a Curitiba que hoje conhecemos.
Que etnias, que circunstâncias, que momentos foram vividos para esses bairros nascerem, crescerem e hoje serem responsáveis pela evolução urbana, cada um deles com suas próprias características? Oficialmente, Curitiba tem o 29 de março de 1693 como data oficial registrada em sua certidão de nascimento. Mas foi no século 19, primordialmente, que a periferia da então ainda restrita região central cresceu, se expandiu, dando forma à urbe atual.
Apesar não relacionados na lista dos 75 bairros oficiais, alguns aqui citados têm denominações consagradas pelas gerações antigas, como, por exemplo, General Carneiro – como era conhecido no passado o Primeiro Alto da Rua 15 de Novembro; ou o chamado Campo da Galícia, hoje integrado ao Bigorrilho, originalmente formado por poloneses e seus descendentes.
• Abranches – Fundado em 1 de janeiro de 1873, com predomínio de poloneses, homenageia o então presidente provincial (cargo hoje equivalente ao de governador estadual), Frederico Abranches, que estimulou a imigração e ocupação de áreas que hoje formam a chamada Região Metropolitana de Curitiba.
• Atuba – Endereço da primeira povoação da nascente Vila Nossa Senhora da Luz dos Pinhais, instalada às margens do Rio Atuba, mas depois transferida à região em que hoje se encontra a Praça Tiradentes. É ali que se encontra o chamado Marco Zero de Curitiba.
• Alto da Glória – Abrange a área que abriga o início do antigo Caminho da Graciosa.

• Asilo (hoje parte integrante do bairro Prado Velho) – o antigo nome decorria do hospital psiquiátrico ali instalado, conhecido como Asilo Nossa Senhora da Luz, popularmente também conhecido como Hospício.
• Água Verde – Nasceu fruto da incorporação de glebas de terras então pertencentes à família Paiva, que ali se instalou no passado remoto, quando, na região, predominavam as pequenas chácaras.
• Barreirinha –É passagem para quem se dirige aos municípios vizinhos de Almirante Tamandaré, Rio Branco do Sul e Serro Azul. Originalmente dividido com os nomes de Barreirinha do Ahú e Barreirinha da Cachoeira, mais tarde, fruto das transformações urbanas, perdeu parte de seu território, originando os bairros do Ahú e Cachoeira. Quando ainda formando dois blocos, o do Ahú, em 1923, contava com duas escolas públicas, com 98 alunos; e o da Cachoeira, no mesmo, com uma escola e 53 alunos.
• Bom Retiro – O bairro se originou numa antiga chácara então pertencente à família Macedo.
• Boa Vista – Localizado na região norte, o bairro surgiu num grande espaço formado por uma área campestre, matas, além de uma chácara, tudo então pertencente à até hoje tradicional família Geronasso.

• Bigorrilho – Fruto da somatória de matas e campos onde, no passado, se instalou o Juvenato Marcelino Champagnat, pelos Irmãos Maristas. Nos dias atuais, fruto do marketing imobliliário, por conta da construção de edificações de luxo naquela região, o bairro é “vendido” com o nome de Champagnat.
• Bacacheri – Originalmente formou-se ao longo da nascente Estrada da Graciosa, que no passado era a principal ligação entre Curitiba e o litoral. Em 1854, um ano após a emancipação do Paraná, e que deixou de ser a Quinta Comarca de São Paulo, existiam três grandes sítios na região. O impulso regional se deu em 1887, quando da abertura oficial da Estrada da Graciosa.
• Batel – Há mais de uma versão sobre a razão de seu nome, mas “batel” significa uma embarcação pequena, um barco. Acredita-se que a origem venha de um alfaiate curitibano, no século 19, que construiu um barco pequeno para participar de festividades na cidade vizinha de São José dos Pinhais. O Batel era então endereço de pequenos sítios, e a região, em 1903, foi elevada a distrito policial. Foi o primeiro bairro aristocrático de Curitiba.
• Boqueirão – A imensa área ao sul da cidade era, ainda no raiar do século 20, uma invernada transformada em bairro pela chamada Companhia Territorial Boqueirão, que vendia lotes de terreno ao preço de 200 réis por dia. As edificações na região são de pequeno porte, porque o solo é predominantemente formado por turfa, material de origem vegetal, parcialmente decomposto, encontrado em camadas, geralmente em regiões pantanosas.

• Barigui – Nome do mais conhecido parque urbano, o Barigui era, no passado longínquo, ponto de parada obrigatório de tropeiros vindos dos longínquos campos de Guarapuava e também da região de Ponta Grossa. Esse ponto, então muito distante do pequeno núcleo urbano, já era conhecido antes mesmo da ereção do Pelourinho em Curitiba, em 1668.
• Capanema – Nome homenageia Guilherme Schüch, criador do Serviço Telegraphico, que recebeu o título de barão de Capanema, concedido por d. Pedro II. O barão era dono de uma grande chácara no espaço atualmente próximo ao bairro Cajuru, onde recebeu a comitiva imperial, em 1885, que veio a Curitiba para o lançamento da pedra fundamental da Estrada de Ferro Curitiba-Paranaguá. Nessa área também existiu por muito tempo o observatório meteorológico do Telégrafo. Em 1992, o bairro Capanema mudou de nome e hoje se chama Jardim Botânico.
• Cabral – Em meados do século 19, na região norte da cidade, ali radicou-se a influente família Cabral, que ergueu uma pequena capela consagrado a Bom Jesus.

• Campo Comprido – A região em que o bairro se situa, originalmente foi ocupado e povoado pelas primeiras levas de colonos poloneses vindos ao Paraná, atraídos pela política de imigração fomentada pelo então presidente provincial, Frederico Abranches. Num primeiro momento, o bairro pertenceu ao então existente distrito de Nova Polônia.
• Caximba – Um dos mais antigos bairros da cidade. Em 1854, segundo registros, existiam na região apenas quatro sítios registrados. Em 1923, 23 alunos residentes na região frequentavam a única escola pública disponível.
*Raul Urban é jornalista, escritor, memorialista, pesquisador da memória histórica e ligado à área do transporte multimodal integrado e colaborador do Mural do Paraná.