
Quando 2018 vier, o advogado e professor Mansur Theóphilo Mansur irá comemorar suas bodas de ouro na Faculdade de Direito de Curitiba, hoje Unicuritiba. Titular da cadeira de Direito Financeiro e Direito Tributário desde 1968, ele formou ao longo de quase cinco décadas 18.500 alunos, contados na ponta do lápis.
Foi presidente da OAB-PR, “paradigmático”, segundo muitos advogados ouvidos pela coluna/blog.
MUDANÇA DE RUMO
Mansur significa “vitorioso” em árabe. Ele é vitorioso duas vezes. Ao vencer a pobreza, a indesejada das gentes, e ao impor-se na vida, superando adversidades e tornando-se referencial social e cultural. É filho de libaneses imigrantes fugidos da guerra imposta pelo Império Otomano, em 1916. O pai e a mãe deveriam rumar para Mar del Plata, na Argentina, mas o nascimento de sua irmã, a segunda em uma prole de 12 filhos, os obrigou a desembarcar no Porto de Paranaguá.
ABAIXO DE ZERO
Theóphilo Mansur, o caçula, nasceu em 1933. Fará 85 anos, quando o meio século de magistério chegar. Diz que a miséria sempre o assombrou.
Perdeu quatro irmãos no torvelinho da precariedade da saúde pública. Não começou do zero, começou abaixo de zero, conta. Tirou pó de pratos em casa de louças, foi faxineiro em escritório de advocacia e garçom improvisado nas rodas de pôquer que grupos de judeus organizavam na padaria do pai. Convivia bem nesse encontro inter-religioso, sendo ele e sua família católicos romanos praticantes.
ASSÍDUO
Para conciliar o trabalho e o estudo, matriculou-se no curso noturno da Faculdade de Direito de Curitiba. Era presença assídua na classe como foi presença assídua em sua longa carreira como professor. Até agora só esteve ausente dois dias. E por motivos de saúde. Nunca solicitou licença-prêmio e nunca tirou um período de descanso além daquele previsto no calendário.
HOMEM DE PRINCÍPIOS
Em 1966, foi nomeado promotor da 5ª Região Militar, durante o movimento militar que depois virou ditadura. No cargo conduziu-se com mérito.
Jamais compactuou com os desmandos e com as arbitrariedades. Foi dispensado em menos de um ano. Talvez porque os militares de então tenham visto nele alguém sustentado por princípios muito seguros, lastreados na justiça. Coisa rara naqueles tempos.
MEMÓRIA VIVA
Dois anos depois foi convidado para assumir a cátedra de Direito Financeiro na Unibrasil e nunca mais abandonou a profissão.
Em entrevista para o livro “Vozes do Paraná, volume 9” – a ser lançado em agosto, Mansur Theóphilo Mansur narra, com primorosa lucidez, os acontecimentos que cercam sua vida. É a memória de um tempo em que Curitiba era tão fraterna e justa quanto uma caderneta de merceeiro.
