Por Zaga Mattos – Há determinados assuntos que têm jeito de medos na infância. Não sei a origem do temor, mas sei que não gostava de dormir com meias. Por mais gélido que fosse o clima, numa época que nem aquecedor elétrico existia pelo interior desse nosso brasilzão; quem se arriscava a fazer de uma latinha de sardinha a espiriteira para aquecer o quarto, acabava mesmo correndo o risco de provocar incêndio. O recurso era meter nos pés as meias de lã.
Outra coisa que me assustava e afastava o sono era a morte. Bastava ouvir, lá pelas andanças na vizinhança, um “sabe o fulano? E eu já antevia a imagem daquela figura desconhecida vagando, pra lá e pra cá, entre meus pensamentos. Nunca o vira mais gordo; mas já o imaginava esquálido, com flores multicoloridas entremeadas pelos vãos de seu corpo e o funéreo caixão.
Carregando esse temor pela morte ou por amor à vida, como num samba-canção das antigas, mudava de calçada, ao passar próximo de um campo santo. E foram tantas as vezes que acabei decorando o poema A Cruz, inscrito no frontispício do cemitério: